Um simples barulho à noite, um telefonema de um número desconhecido durante o dia ou a aproximação de veículos nunca vistos antes são sinais que imediatamente levam medo a um casal de idosos aposentados moradores da pacata Enseada de Brito, em Palhoça, na Grande Florianópolis. O motivo é um crime sinônimo de pavor e dor: o latrocínio, considerado um dos delitos de pura violência, cuja prática costuma deixar sequelas para o resto da vida em familiares.

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Há cerca de quatro meses, José Inácio Matias, de 24 anos, foi morto na frente dos avós dentro de casa. Ele jogava videogame com amigos dentro da borracharia onde trabalhava, às margens da BR-101, quando três assaltantes chegaram em um Fiat Palio. Era por volta das 19h, e o rapaz foi levado à casa dos avós, que fica ao lado da oficina. José reagiu à ação de um dos criminosos em defesa do avô José João dos Santos, 76 anos, e da avó Oleda Marli Quilante Matias, 70. Tentou defendê-los ao ver o revólver apontado para o casal e levou dois tiros de um bandido, um deles no coração.

– Diziam que queriam dinheiro, mas a gente não teve tempo de pegar. Não tem explicação matar assim – conta o avô.

Os bandidos fugiram levando R$ 150, o videogame da oficina e alguns objetos – estes últimos deixados no carro, que foi abandonado na mesma noite. Oleda Matias chora ao lembrar do neto, que criou como filho, e se diz inconformada com a violência. A família relata casos de assaltos nos bairros de Palhoça, uma realidade incomum para o local alguns anos atrás.

– Moramos aqui há mais de 30 anos, sempre com tudo aberto, roupa para fora (de casa). Nunca houve nada. Criei ele (José) desde criança… Um rapaz que nunca brigou com ninguém, nunca se envolveu com droga, nada – diz a avó.

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Há alguns dias, em casa, Oleda atendeu a um telefonema a cobrar pensando ser a neta, também criada como filha. Chorando, a voz feminina dizia ter sido alvo de sequestro, informação reafirmada por um homem que logo entrou na conversa. A aposentada associou a voz do criminoso à do ladrão que assaltara a sua casa em abril, desligou o aparelho e correu à escola para ver se estava tudo bem com a neta. Quando a viu no colégio, segura, tranquilizou-se e confirmou que era o golpe do falso sequestro.

– Sempre é aquele trauma, um medo que fica na gente – lamenta.

Dados da Secretaria de Segurança Pública indicam que houve 27 roubos seguidos de morte no primeiro semestre deste ano em Santa Catarina – uma redução de 18% em relação ao ano passado, quando 33 casos desse tipo foram registrados entre janeiro e junho. Em todo o ano de 2016 foram 62 latrocínios no Estado. Crimes de repercussão e de clamor social, eles são considerados prioridade pela polícia. Em geral, a investigação é considerada concluída, com pelo menos uma prisão.

No caso de Palhoça, a informação que consta na Justiça é de que a polícia prendeu pelo menos um dos ladrões pelo assassinato de José Matias. Ele está detido temporariamente na Grande Florianópolis.No entanto, ainda não há solução para dois casos recentes em Florianópolis. O primeiro, o do motoboy Thiago Barleta Lima, de 31 anos, alvejado no bairro Saco dos Limões, no caminho para o sul da Ilha, enquanto fazia uma entrega. Ele era natural de Belém, no Pará, e deixou a mulher grávida de três meses.

Até agora, ninguém foi preso. O mesmo ocorre com a morte do cabo aposentado da Polícia Militar Celso Olivério da Costa, de 55 anos. Morto a tiros em um assalto na padaria em que trabalhava, no Estreito, na região Continental, ele é lembrado por colegas de farda como um apaixonado pela profissão. As investigações estão em andamento.

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¿A gente passa a ser refém¿, lamenta colega de jovem morto em Navegantes

Um outro assassinato de repercussão em um assalto aconteceu em junho, em Navegantes, no Litoral Norte. O balconista Matheus da Silva Santos, de 23 anos, foi morto a tiros durante um roubo à farmácia onde trabalhava. Ele morreu no dia do seu aniversário, ao tentar socorrer uma cliente alvo de ladrões na frente do estabelecimento. O crime gerou dor e revolta na cidade, além de uma passeata em protesto contra a insegurança. A polícia prendeu dois suspeitos.

– A saudade fica. A gente também passa a ser refém, vive com medo, afeta a vida – conta uma colega da vítima, que, por medo, preferiu não se identificar.

Para o presidente da Associação dos Praças de Santa Catarina (Aprasc), Edson Fortuna, bandidos não medem qualquer esforço para atingir o objetivo final que é o de roubar, num crime que atualmente está em todos os lugares.

– Os latrocínios são o reflexo da impunidade, da falta de planos do Estado. Não adianta só adquirir câmeras de segurança, o primordial é o ostensivo feito pelo policiamento – diz Fortuna.

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Reação deve ser evitada

Qualquer ato de reação pode custar a vida diante de assaltantes, alertam policiais. Por mais tensão que haja durante um roubo, há dicas e recomendações importantes que devem ser observadas.

– Raramente o ladrão chega atirando e matando. É importante ter em mente que um ato de movimento brusco pode ser mal interpretado. O ideal é manter a calma, falar pouco, não tentar cooptar, negociar ou oferecer o que não foi pedido. Quando for fazer algum movimento, como tirar o cinto, deve-se dizer ao ladrão o que vai fazer. Ligar para o 190 somente quando estiver totalmente seguro – orienta o subcomandante-geral da Polícia Militar, coronel Araújo Gomes.

Dicas para se proteger contra roubos

Esteja sempre atento e tenha hábitos seguros durante o dia a dia;

Evite situações e locais perigosos por serem escuros, afastados ou com a presença de pessoas suspeitas;

Prefira evitar situações perigosas a assumir o risco de ter que fugir ou reagir caso algo aconteça;

Se apesar das medidas preventivas for rendido por ladrões, não reaja;

Em caso de ser conduzido por ladrões contra sua vontade, aparente calma (mesmo que, naturalmente, não esteja), fale e faça somente o mínimo necessário e avise se for realizar movimentos bruscos;

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Assim que estiver em segurança, acione o telefone 190 imediatamente e peça ajuda. Deixe para fazer contato com familiares e amigos somente depois que a polícia estiver a caminho.