A rotina de seu Vilson sofrerá uma alteração que vai muito além de sua vontade. Na terça-feira à tarde, a lanchonete por ele administrada, no início da Rua Rui Barbosa, na Agronômica, em Florianópolis, foi fechada após o Governo do Estado cumprir um mandado de reintegração de posse na área por ele ocupada desde 1990. Proprietário da área, o Estado de Santa Catarina não respondeu até a publicação desta matéria o que pretende fazer do local. Já pacientes dos hospitais da região, funcionários das entidades do entorno e populares reclamam do fechamento da lanchonete e questionam o critério utilizado para desocupar o local e deixar outros pontos, também em área pública, funcionando normalmente.
Continua depois da publicidade
Ciente de que mais cedo ou mais tarde teria que deixar a lanchonete, já que o processo corria há seis anos na Justiça, Vilson Abelardo Oliveira, 61 anos, lamentou o fato de que a área pode virar mais um ponto de encontro de moradores de rua e usuários de drogas na cidade. Além disso, afirma que foi tirada dos frequentadores do Hospital Infantil Joana de Gusmão uma das opções mais tradicionais de lanche e descanso em uma região rodeada de prédios públicos e entidades voluntárias, como o Lar Recanto do Carinho, que atende crianças doentes e familiares.
— Eles vieram cumprir uma ordem de despejo, mas vieram no atropelo, do nada, mandando sair. Estava aqui há 27 anos, trabalhando de segunda à sexta das 5h30min às 20h. Isso aqui era a minha vida. Trabalhava eu, minha esposa, meu filho e um amigo. Sempre paguei os impostos certinho, mas agora não sei nem o que fazer da vida — conta seu Vilson, morador da Armação que na tarde desta quarta-feira retirava os últimos objetos pessoais do local, inclusive as portas de ferro que comprou no passado e agora vai levar para casa.
Ele costumava atender cerca de 400 pessoas por dia, vendendo água, suco, refrigerante, cerveja e salgados dos mais variados. Um dos que ficou “órfão” da lanchonete e das conversas jogadas fora foi Nemésio Alves Damiani, 63 anos, que na tarde de ontem levou solidariedade ao amigo de 27 anos.
Continua depois da publicidade
— Agora vou ter que achar outro lugar para passar o tempo — lamentou.
Medo da insegurança
Márcia Rila, funcionária do Lar Recanto do Carinho, que chegou a se colocar na frente dos fiscais durante o fechamento na terça-feira, lembra que seu Vilson é muito querido pelos frequentadores da região. Seu maior temor, agora, é que a insegurança sentida em diversos pontos da cidade se instale de vez no ponto localizado menos de 100 metros abaixo da entrada do Hospital Infantil. Cheia de perguntas, indaga o que será feito do terreno. Questionamento feito pela reportagem à Secretaria de Estado da Administração, que ainda não havia respondido a pergunta até a publicação desta matéria.