Há 100 anos Henry Ford inaugurava a moderna linha de montagem de veículos em sua fábrica em Highland Park, nas proximidades de Detroit. A inovação provocou uma transformação radical da produção industrial e da sociedade americana da época.

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Ao reduzir drasticamente o custo de fabricação, utilizando partes padronizadas e montagem mais eficiente, a Ford conseguiu levar o luxo, a comodidade e a liberdade do automóvel às massas. Outras indústrias logo adotaram o modelo e atualmente, tudo, de cereais a caixões, é feito pelo mesmo preocesso.

A linha de montagem na histórica fábrica, conhecida como Palácio de Cristal, reduziu o tempo necessário para montar o histórico modelo Ford T, de 12,5 horas a apenas 93 minutos. Maior produtividade significa mais lucro, que chegava aos trabalhadores por meio de salários mais altos. Eles tinham, assim, mais dinheiro para comprar produtos, criando o que os economistas chamam de ciclo virtuoso de crescimento.

De 100 a 1.000 Ford T em um dia

Embora a divisão de funções já existisse há algum tempo e a linha de montagem em movimento tivesse transformado a indústria embaladora de carne em Chicago e Cincinnati (norte dos EUA), foi a Ford que a adaptou para produções complexas.

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– Henry Ford dizia que se pudesse economizar a cada um de seus trabalhadores 50 passos diários, poderia economizar milhares no final do ano – disse Bob Kreipke, historiador corporativo da Ford.

Veículo histórico da Ford, o modelo T foi o primeiro a levar o sonho do carro próprio aos cidadãos comuns

Ao padronizar os veículos, Ford já havia reduzido os custos, mas esses ainda eram muito altos e o volume de produção muito baixo para a “grande multidão” que ele pretendia atingir. Tudo isso mudou com a linha de montagem que ele pôs em funcionamento em Highland Park. Mudanças que foram satirizadas por Charles Chaplin em seu filme “Tempos modernos”.

Trens carregados com peças chegavam até o Palácio de Cristal, onde gruas as levavam por uma grande claraboia. Esteiras levavam as peças até os trabalhadores, enquanto os carros eram retirados de um andar a outro.

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– Quando estava em operação era como uma colmeia em movimento – disse Kreipke enquanto percorria a histórica fábrica da Ford, atualmente destinada a armazenamento de peças. – Quando começou a funcionar faziam cerca de 100 carros por dia e chegou aos 1.000, quase o mesmo que uma fábrica moderna – ressaltou.

Em 1914, 13 mil trabalhadores da Ford fabricaram cerca de 300.000 veículos, mais que suas quase 300 competidoras conseguiram fazer com 66 mil funcionários.

Preços mais baixos, menos dias de trabalho

Com especialização da linha de montagem Ford já não tinha que contratar artesãos: podia empregar trabalhadores pouco qualificados, mas o trabalho monótono provocou uma alta rotatividade de empregados e, por isso, o empresário teve que duplicar o salário mínimo a fim de manter sua linha operacional em atividade.

Com cinco dólares diários e uma semana de trabalho de cinco dias, os trabalhadores da Ford tinham dinheiro para comprar carros e tempo ocioso para usá-los.

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Apesar dos maiores custos trabalhistas, a eficiência do sistema permitiu a Ford reduzir o preço de seu Modelo T dos US$ 850 iniciais para US$ 260.

As inovações tecnológicas, como a automatização e a pronta entrega, se traduziram em uma maior eficácia.

100 anos depois

Apenas 500 pessoas trabalham, hoje, diretamente na linha de montagem da fábrica da Ford, em Michigan. Cerca de 48.000 pessoas trabalhavam no Palácio de Cristal em seu apogeu.

Na atual fábrica são montados cinco modelos: três Focus (um de alto rendimento, um standard e um híbrido) e dois C-Max (um híbrido e um híbrido versão plug-in), de diferentes cores e características, incluindo uma opção hatch.

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Um complexo sistema de informática permite um acompanhamento de cada veículo ao longo da linha. Os carros são levantados para evitar que os trabalhadores tenham que carregar as partes mais pesadas e há robôs para fazer o trabalho mais preciso, como soldar a carroceria.