Criada para fazer barulho, a caxirola está agora envolta em silêncio. Aquele que deveria ser o instrumento musical oficial dos estádios brasileiros durante a Copa das Confederações e a Copa do Mundo se transformou em um tema espinhoso tanto para seu inventor quanto para o fabricante. Até mesmo a Fifa não garante a presença do controverso chocalho na Copa das Confederações e na Copa do Mundo.
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Licenciada pela entidade e chancelada pelo Ministério do Esporte, a réplica do caxixi, instrumento tradicional da capoeira, foi uma ideia do músico baiano Carlinhos Brown e será produzida e distribuída pela multinacional The Marketing Store, composta pelo plástico verde desenvolvido pela Braskem. O negócio chegaria perto dos R$ 1,5 bilhões, se alcançadas as expectativas de venda de 50 milhões de unidades vendidas a R$29,90. O governo federal não ganha diretamente com o projeto, apenas no recolhimento de impostos. Para acabar com boatos de que o poder público também teria uma fatia na comercialização, o Ministério do Esporte soltou nota afirmando que “A chancela conferida pelo governo não garante qualquer aporte de patrocínio, apenas certifica que esses projetos estão de acordo com as diretrizes de promoção do país”.
A “chuva de caxirolas”, como ficou conhecido o lançamento do produto, em que a torcida do Bahia arremessou centenas de chocalhos contra jogadores na Fonte Nova, foi o estopim para uma melhor avaliação do objeto. A Polícia Militar e o Comitê Organizador Local (COL) da Copa se reuniram para discutir o tema e, pelo menos até segunda ordem, o objeto ficará fora dos estádios no Campeonato Baiano. O mesmo pode acontecer durante os torneiros internacionais deste e do próximo ano. A assessoria de imprensa da Fifa afirmou que após o incidente em Salvador, a entidade e o COL vão reavaliar a caxirola na Copa das Confederações e na Copa do Mundo por razões de segurança. Até agora, não há prazo para essa definição.
A The Marketing Store divulgou uma nota afirmando que as 50 mil caxirolas por ela distribuídas tiveram “aceitação imediata” da torcida, e que as unidades atiradas no campo fizeram foram “um caso isolado”. Além das questões de segurança, a caxirola também gerou polêmica por ser considerada uma criação oportunista, que forja um comportamento até então inexistente na torcida brasileira, além de batizar e licenciar um produto quase idêntico a outro, que pode ser encontrado em feiras por menos de R$ 10. Para o mestre de capoeira Rogério Dandá, Carlinhos Brown está pagando o preço pela falta de reflexão.
– Quando a pessoa quer ganhar dinheiro com tudo, às vezes faz besteira. Ele quis reinventar a roda e achou que o brasileiro é idiota, que a capoeira ainda é uma arte do gueto. Se deu mal – criticou.
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Cantor e compositor autor de clássicos como É D’Oxum, Jubiabá e Menino do Pelô, Gerônimo Santana afirma que o colega de profissão se deu mal pelo excesso de esperteza:
– Toda cascavel tem um chocalho, ele acabou sendo mordido. Brown mesmo diz que é o melhor vendedor de picolé que existe. Acho que ele é muito inteligente e poderia ter feito algo melhor.
O próprio Carlinhos Brown tem evitado falar sobre o tema. Zero Hora tentou contato com Brown, mas a assessoria de imprensa do cantor negou os pedidos de entrevista. Antes do incidente da Fonte Nova, entretanto, ele parecia bem animado. Durante o lançamento oficial em Brasília, em 23 de abril, que contou com a presença da presidente Dilma Rousseff e da ministra da cultura, Martha Suplicy, Brown afirmou que a caxirola não era uma cópia do caxixi.