Já se vão três décadas desde que Lair Bernardoni correu para atender ao telefone, deixando a sobrinha no quarto provando o vestido de debutante, voltou distraída pelo corredor e, de repente, encontrou o motivo que a fez sorrir com ainda mais paixão pela vida.
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Prestes a completar 45 anos, ela estava se despedindo da carreira de modista, mas aqueles minutos de um dia comum em 1982 transformariam seu destino: sentada na cama, a adolescente era iluminada apenas por um feixe de luz do Sol.
Lair buscou a câmera fotográfica, registrou o momento e descobriu seu papel na vida: capturar a beleza, passá-la do mundo para o papel e apresentá-la em formato de pequenos sonhos.
A trajetória que seguiu-se desde aquela tarde ensolarada estará à mostra no Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), na exposição ‘Pinceladas de Luz’, que teve a abertura nesta sexta-feira e permanece até 12 de maio.
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– De alguma maneira, eu fiz escola para as quarentonas, para quem achava que não tinha mais entusiasmo, porque isso me impulsionou, me fez ter energia e proporcionou reação naquele momento em que eu queria parar de trabalhar -, avalia Lair.
É quase possível dizer que a vida dela recomeçou naquele momento, mas a artista prefere definir como uma caminhada lado a lado com a mulher que ela era antes e aquela que se tornou depois de se descobrir fotógrafa.
Seu trabalho ficou conhecido no Brasil quando estampou, ainda nos anos 1980, o material publicitário dos perfumes O Boticário.
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Não demorou para que estivesse entre os profissionais que colaboravam com a agência internacional The Image Bank (atualmente incorporada pelo Getty Images Inc.) e suas imagens de mulheres e crianças brasileiras encantassem o mundo.
Suas obras também ilustraram capas de livros, agendas, calendários, discos e peças publicitárias, além de serem expostas em museus da América do Sul, dos Estados Unidos, do Canadá e da Europa.
– Minha obra marca o renascimento do portrait, que remete muito à descoberta da fotografia, mas com a dinamização da câmera de caixa, essa tradição se perdeu -, explica.
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Este retorno às origens da arte de fotografar é marca registrada de Lair, que por vezes recebe elogios ‘pelas belas pinturas’, numa confusão comum que as pessoas fazem ao observar as imagens diáfanas que misturam realidade e sonho. Ela só usa luz natural e fotografa sempre a até 60 centímetros da modelo.
– Preciso deste espaço exíguo que a foto revela. As mulheres se abandonam, se deixam levar, e é neste momento que faço a foto. Há uma leitura do (Lindolf) Bell em que ele diz que minhas fotos revelam a face debaixo do rosto – e ela é vaidosa também. Os homens amam a mulher que eu retrato: ela não é erótica, é sensual e doce -, conta Lair.

Percurso atrás da beleza
Há alguns anos, os olhos de Lair se voltaram também para as paisagens, a começar por aquela que ela tem no ‘jardim de casa’, na praia de Paulas, em São Francisco do Sul. Foi a terra natal, em grande parte, que a ensinou a enxergar o mundo de um jeito único.
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– Lá não é lugar de morar, é lugar de viver -, define.
Quando começou a levar seus trabalhos para expor pelo mundo, começou a conhecê-lo por trás da câmera também. Assim fotografou a Itália, a Turquia, a China e a Hungria, entre outros destinos.
Hoje, ela mudou o foco de visão para adentrar nos países sem passar apenas pelos pontos mais famosos, mas para enxergar a vida real nas cidades estrangeiras.
– Você vai achar engraçado, mas agora tenho fascínio por portas e janelas.
Na exposição ‘Pinceladas de Luz’ – nome de um de seus três livros – Lair mostra muito mais do que as fotos que produziu em viagens pelo mundo e pelo universo das mulheres que fotografou: são dois mil metros de paredes que registram esta caminhada em imagens e objetos de recordação.
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