Adentrar o ateliê de um artista é como saltar de uma dimensão para a outra. Num minuto se está num mundo cartesiano, em que um e um são dois e uma pedra é apenas uma pedra, e de repente tudo vira abstração: as pedras são, na verdade, corações e as árvores em volta, quando bate o vento, se abraçam. O universo tem tons de terra na casa-ateliê do artista Laércio Luiz, personagem icônico da cultura da Capital. Dois dias antes de abrir A eterna procura da cidade azul – exposição inaugura nesta quinta, na Capital – ele compartilhou detalhes de seu infinito particular onde o tempo é o aqui e agora.

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>> Conheça a casa-ateliê do artista e como ele faz pigmentos naturais

A mostra reúne 27 trabalhos que abrangem uma produção de pinturas e objetos criados entre 1989 e 2013 e segue aberta até o dia 9 de março. Aos 54 anos, o artista tem mais de duas décadas de pesquisa sobre pigmentos naturais. Por isso o mundo à sua volta é uma festa de cores primárias e tons terrosos, pois é das pedras, das madeiras, da argila e de tudo o mais que encontra na natureza que ele tira a matéria prima para suas obras, como um alquimista da criação.

– O barro, a terra em si, os vegetais. Vou buscando uma linguagem para eles – diz.

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E o suporte para sua arte pode ser tanto uma folha de papel quanto um pedaço de madeira. A eterna procura da cidade azul tem obras em papel, tela e objetos, que o curador Franzoi, depois de uma imersão em sua casa no Córrego Grande, em Florianópolis, foi descobrindo.

– É uma trajetória. São coisas que nunca mostrei, raridades da minha vida.

O artista costuma trabalhar com séries. Inventa um nome para elas, como ele diz, ou reflete sobre um sentimento, e vai criando, inspirado no que está ao seu redor. A mostra abarca oito séries diferentes: Entropia da cor (1987-88), Autorretrato (1989), Neo orgânico (1990), Portais (1994), Espírito (1992-94), Poesias sopradas (1994), Somos todos iguais (2012) e Objetos extraídos (2013).

Sobre a temática de suas criações, assim como anda pelo mundo atento aos sinais da natureza, ele também presta atenção às questões políticas, sociais e culturais de onde vive. Por isso suas séries são carregadas de simbolismos e regionalismos.

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– Me inspiram os mitos, bruxarias, as crenças.

E como um artista interdisciplinar, busca viabilizar sua arte a partir do estudo da geologia, matemática, engenharia, biologia. Só assim para colocar de pé esculturas que se mexem, entender a gênese dos minerais, os quais usa para pintar, e investigar profundamente tradições de uso da plantas para desenvolver pigmentos e tintas naturais.

– Quando comecei só tinta a óleo e acrílica eram legais. Hoje os produtos naturais estão em primeiro lugar. – conta.

Desde menino ele se rebelava contra coisas prontas, ao fato de todo mundo jogar muita coisa fora. Aí ele aprendeu a transformar. E desde então dedica sua energia e tempo a criar e a transformar o que está ao seu redor.

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:: Agende-se

O quê: exposição A eterna procura da cidade azul, de Laércio Luiz

Quando: até 9/3, terça a sexta, 10h às 18h; sábados e domingos, 10h às 16h

Onde: Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa (praça 15 de novembro, 227, Centro, Florianópolis)

Quanto: gratuito

Informações: (48) 3028-8091

Oficina Pigmentos Naturais

Quando: 19/2, das 9h às 12h e 14h às 17h

Onde: Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa

Quanto: gratuito (25 alunos por turno)

Conversa com artista

Quando: 19/20, 18h às 21h

Onde: Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa

Quanto: gratuito