O homem acordou, tomou banho, fez a barba e vestiu a melhor roupa. Antes de sair do Bairro Bom Viver, em Biguaçu, avisou ao amigo que o acolhia que não ia voltar. Antes das 9h, da segunda-feira, estava em frente à 1ª Delegacia de Polícia de Florianópolis.
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– Vim para ser internado – anunciou.
Os policiais quase não reconheceram o homem de 56 anos, que haviam detido e interrogado na sexta-feira anterior, maltrapilho e transtornado pelo uso de crack. Ele era suspeito de uma série de furtos, cometidos há um mês na Catedral Metropolitana de Florianópolis e na Igreja de São Francisco – no Centro da Capital.
A 1ª DP registrou 10 boletins de ocorrência do tipo. As câmeras de segurança da Catedral flagraram os crimes. Diante do delegado Carlos Francisco dos Passos, o homem pediu por ajuda para se livrar do vício.
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– Estamos acostumados a ver as pessoas fazerem cena, mas o pobre diabo nos pegou de coração mole – disse Carlos.
Padres lhe estenderam a mão
Por ironia do destino, o ladrão de fiéis encontrou abrigo justamente em uma instituição de padres da Igreja Católica, na Enseada de Brito, em Palhoça. A Associação Vida Nueva acolhe 22 moradores de rua e usuários de drogas para reabilitação.
Ele ficará no lar até o fim do inquérito de furto. Cometia delitos há 15 anos De acordo com a PM de Biguaçu, o homem já era conhecido por cometer furtos e por estelionato. Foi detido diversas vezes, mas a família sempre pagou a fiança. A última detenção havia sido há um ano.
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– Ele é 171, engana as pessoas por dinheiro. Comete furtos de bolsas, roupas, e objetos para vender e comprar drogas – informou um PM.
Os mais recentes ocorreram nas igrejas do Centro da Capital. As imagens das câmeras mostram que ele escolhia a vítima e se aproximava para esperar uma distração. Quando o fiel se ajoelhava, ele furtava a bolsa e saía.
Assista às imagens da câmera da igreja (ladrão está de bolsa branca):
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Drogas motivaram rumo errado na vida
Enquanto escolhe uma bergamota no pomar da chácara, o homem, que se diz arrependido, pensa na família, que se distanciou depois de perder as esperanças em sua recuperação. Ele conta que, no passado, era taxista, mas sempre bebeu e usou drogas. Depois que se aposentou, o vício piorou.
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– Eu recebia o pagamento e levava tudo para o morro para comprar crack. No outro dia, não tinha dinheiro nem para comprar pão e café – lembra ele, que foi diagnosticado com HIV, há um ano.
Com o olhar vago, aperta as mãos, irrequieto. Diz que a saudade maior é dos filhos, que há dois anos não vê, pois vivem em Rio do Sul com a mãe.
Baixar a guarda, nem mesmo na igreja
O pároco da Catedral Metropolitana, Siro Manoel de Oliveira, disse estar satisfeito com a notícia de que o responsável pelos furtos foi encaminhado a uma instituição católica.
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– A Igreja condena o pecado, mas abraça o pecador. Se ele quer mudar, por que não dar a chance? – acredita.
De acordo com o padre Domingos Chagas, do lar para dependentes, é muito cedo para falar em recuperação, mas a entidade está de braços abertos para o novo interno. Já na Catedral, o padre Siro lamenta outros crimes. Há duas semanas, celulares e R$ 800 foram furtados da sacristia:
– Estamos cercados de pessoas em situação de carência. Nem na igreja é possível baixar a guarda.
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