Ela é companheira de todas as horas. Está presente no dia a dia de trabalhadores e nos momentos de lazer de muitas famílias brasileiras. É tão multifuncional que já foi usada como ambulância, viatura policial, veículo do Corpo de Bombeiros, carro funerário, lanchonete e até para transportar equipamentos de empresas jornalísticas. Por isso mesmo, o seu público é bastante diversificado.

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Entre colecionadores, aventureiros, ambulantes, empresários, viajantes e artistas, todos amam a Kombi. Fabricada há 56 anos no Brasil, ela tornou-se ícone na indústria automobilística. De setembro de 1957 até setembro deste ano foram produzidas 1,56 milhão de unidades na fábrica de São Bernardo do Campo (SP).

O veículo de maior longevidade do mundo está com os dias contados: sua produção termina em dezembro deste ano, porém, se depender de alguns amantes do veículo, essa história não terá um fim tão imediato.

O empresário Nestor Deschamps, 47 anos, que mora em Florianópolis, comprou sua primeira Kombi há cerca de 10 anos. O modelo 1974, conhecido como Corujinha, está com 83 mil quilômetros rodados e remete à infância de Nestor, em São Pedro de Alcântara.

Lembranças da infância causam uma certa nostalgia

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– A Kombi é um símbolo da história econômica do nosso país. Além disso, meu pai era comerciante e usava o veículo todos os dias. Nos fins de semana, reunia a vizinhança e todos iam de Kombi à missa. Meus irmãos aprenderam a dirigir com ela. O modelo traz um pouco de nostalgia – conta o empresário.

A Branquinha, apelido dado por Deschamps ao veículo, agora ganhou uma companheira da mesma família, só que mais enxuta. Chamada por ele de Velha Dama, a série especial Last Edition foi adquirida em outubro. São 1,2 mil unidades que serão comercializadas e a de Deschamps é a de número 1.170. A edição traz ainda itens exclusivos como pintura tipo “saia e blusa” e elementos de design que remetem às versões anteriores.

Jorge Chidiac Neto, gerente comercial da Auto Capital – revendedora da Volkswagen no Bairro Saco Grande, em Florianópolis – conta que a procura pelo veículo sempre foi alta graças ao custo-benefício da Kombi em relação às concorrentes. Segundo ele, a demanda se intensificou nos últimos meses devido ao anúncio do fim da produção.

Idealizado pelo holandês Ben Pon na década de 1940, o veículo é a combinação do confiável conjunto mecânico do Volkswagen sedã com um modelo de carga leve. O nome Kombi é uma abreviação, adotada no Brasil, para o termo em alemão Kombinationsfahrzeug, que em português significa “veículo combinado” de carga e passeio.

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Um dos motivos apresentados pela Volkswagen para suspender a fabricação da Kombi é que o modelo não teria condições de ser adaptado para receber airbag e freios ABS a partir de 2014, conforme prevê resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).

>>>No embalo da Capirinha

Se depender de iniciativas como a do jornalista Felipe Costa, 25 anos, e do ex-BBB Emílio Zagaia, 41, a Kombi permanecerá na memória dos brasileiros por muito tempo. A bordo de uma Kombi Westfalia Camper alemã 1971, eles percorreram 20 mil quilômetros e atravessaram 15 países entre 31 de dezembro de 2011 e 31 de julho de 2012. Na bagagem, muitas histórias para contar e se divertir.

A dupla havia planejado passar pela Bolívia e pelo Paraguai, mas desistiu por falta de dinheiro e condições das estradas. O material coletado foi apresentado em forma de livro no trabalho de conclusão de curso (TCC) de Felipe Costa no curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mas o projeto rendeu muito mais.

Felipe e Emílio entrevistaram muitas pessoas nos países da América Latina em busca da resposta do que é a felicidade.

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O resultado do trabalho foi a criação do documentário O mundo é uma Kombi, que será lançado em Londrina (PR) no dia 4 de dezembro. Além disso, Felipe pretende escrever um livro sobre os bastidores da aventura, que teve como protagonista a Caipirinha, Kombi pintada de verde e amarelo e que foi utilizada pelos estudantes para fazer o trajeto entre o Brasil e o México.

Os dois investiram cerca de US$ 20 mil na aventura, incluindo gastos com equipamento de filmagem. Felipe cita que não houve nenhum problema em relação à segurança e todos foram muito solidários durante a viagem. As maiores dificuldades ocorreram quando a Caipirinha apresentou problemas mecânicos em função da idade avançada. Felipe chegou a duvidar se conseguiria voltar ao Brasil com a Kombi. Achou que ela não aguentaria o tranco. Ledo engano. A Capirinha segurou a bronca e agora se prepara para outro desafio: levar a dupla de aventureiros em uma viagem de cem dias pela Patagônia em janeiro do ano que vem.

– Esse modelo não vai acabar nunca. Tem muita gente que assim como nós gosta mesmo é de Kombi velha – diz Felipe.

>>> Extensão da própria casa

Há dois anos, a Victória Motor Homes, de Araquari, no Norte do Estado, resolveu ampliar o portfólio da empresa e começou a fabricar a Kombinet, uma espécie de casa dentro de uma Kombi. Ao levar o veículo, que pode ser novo ou usado, a empresa faz a transformação. Depois de 45 a 60 dias, a Kombinet está pronta com uma cama de casal, cama extra, banheiro portátil, cozinha e ducha externa, além de toldo para curtir momentos ao ar livre.

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Para realizar o serviço que inclui instalação elétrica, hidráulica, além de custos com a parte de documentação, a empresa cobra a partir de R$ 30 mil. Para o proprietário da empresa, Plínio Cesar Pasa, o conceito da Kombinet é ter um carro para a família passear, acampar e usar no dia a dia, sem gastar tanto como em um motor home maior.

Conforme Pasa, a empresa é a única no Brasil homologada para transformar Kombis e montou 10 unidades nos últimos dois anos. Ele acredita que a demanda deve crescer ainda mais com o fim da produção do modelo.

– A Kombinet é bem comum fora do país e já tivemos alguns pedidos – diz.