O emissário da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Kofi Annan, disse nesta terça-feira ao Conselho de Segurança que seu plano de paz para a Síria pode ser “a última oportunidade de evitar uma guerra civil” no país, onde ele teme o aumento das violações dos Direitos Humanos.
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Paralelamente, a violência prosseguiu na Síria com a morte de mais seis pessoas, entre elas civis, segundo os militantes. Annan ressaltou que sua mediação “não está ilimitada no tempo” e revelou que pessoas conhecidas na Síria por apoiarem a não violência no levante foram presas pelo governo.
O emissário manifestou o seu temor de que a tortura, as prisões em massa e outras violações dos direitos humanos estejam se “intensificando” na Síria, e afirmou ainda que cabe a Assad assumir a “responsabilidade básica” para acabar com os confrontos armados e “criar um ambiente que conduza a um processo político”.
A oposição síria denunciou recentemente uma “escalada das prisões”, o que viola o plano de paz que prevê, além do fim da violência, a libertação de pessoas detidas durante a revolta que afeta o país há 14 meses.
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Apesar disso, acrescentou que o plano de seis pontos não é uma oportunidade de “final aberto” para o presidente sírio, Bashar al-Assad, segundo os diplomatas que participaram da reunião a portas fechadas de Annan com o Conselho de Segurança.
Em relação à aplicação do plano de saída da crise, Annan constatou um “progresso limitado” no campo militar, enquanto o exército continua “a pressionar a população de maneira mais discreta”. Ele clamou por um diálogo político entre poder e oposição e justificou que a presença dos observadores da ONU tem por objetivo “criar condições propícias para facilitar um progresso político”.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou pouco antes que não perdeu as esperanças na Síria, mas acrescentou que seriam necessários “mil, dois mil, talvez três mil observadores” da ONU.
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O relatório de Kofi Annan, com base em relatórios dos 60 observadores no terreno, foi divulgado um dia depois das eleições parlamentares boicotadas pela oposição e condenadas pela comunidade internacional, particularmente pelo chefe da ONU, Ban Ki-moon. O mundo está “envolvido em uma corrida contra o tempo para evitar uma guerra civil”, insistiu Ban Ki-moon.
– Somente um diálogo amplo e inclusivo pode levar a um futuro verdadeiramente democrático na Síria – afirmou seu porta-voz Martin Nesirky.
Segundo a agência de notícias oficial SANA, 14 veículos e equipamentos de comunicações para os observadores chegaram de avião a Damasco nesta terça-feira. Na sexta-feira, o porta-voz de Annan havia considerado que o plano para acabar com a crise estava “nos trilhos”.
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No entanto, mais de 800 pessoas morreram desde a entrada em vigor do cessar-fogo, em 12 de abril, de acordo com Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). A violência no país já matou quase 12 mil pessoas desde março de 2011, a maioria civis, e mais de 25 mil continuam detidas, de acordo com OSDH.
Nesta terça-feira, seis civis morreram nas províncias de Idleb (noroeste), Homs (centro) e Damasco. Além disso, o exército bombardeou Qalaat al-Madiq e Krak (centro), segundo o OSDH. Na segunda-feira, dia de votação no país, os militantes contabilizaram 25 mortes.
A França caracterizou a votação como uma “farsa sinistra”, enquanto os Estados Unidos afirmaram que a “realização de eleições parlamentares neste tipo de ambiente beira o ridículo”. Pequim, que apoia Damasco, espera que as legislativas ajudem a “promover o processo de reformas”, enquanto o Irã parabenizou a ação.
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A imprensa síria, oficial ou próxima ao regime, comemorou as eleições, incluindo o número de eleitores, cerca de 60%, “apesar das ameaças e operações terroristas”, segundo o jornal Al-Watan. O regime, que não reconhece a magnitude da contestação, atribui a violência a “gangues terroristas”.
De acordo com a SANA, dois colégios eleitorais em Damasco vão votar novamente nesta terça-feira após fraudes. Os resultados das legislativas serão anunciados quando a comissão eleitoral receber os resultados de todas as províncias.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) pediu um aumento de 20 milhões de euros para financiar suas operações na Síria, e anunciou que, depois de “discussões longas” com Damasco, terá acesso, na próxima semana, à prisão de Aleppo (norte).
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No plano econômico, as sanções europeias e americanas sobre o petróleo sírio custaram ao país cerca de US$ 3 bilhões, de acordo com o ministro do Petróleo Sufyan Allaou. No exterior, o Parlamento romeno aprovou três tratados entre Bucareste e Damasco sobre a extradição de condenados e a luta contra o crime organizado, uma decisão criticada em vista da repressão.