Ele sonhava em ser como Michael Jordan e acabou se tornando ele mesmo: Kobe Bryant, um jogador talentoso, mas individualista, admirado e odiado por muito tempo, conquistou o respeito do mundo ao mudar o comportamento e o jogo para se tornar um dos maiores jogadores de basquete da história.

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No dia 13 de abril de 2016, a despedida em lágrimas de Kobe da NBA foi pela porta da frente. Mal durante boa parte da 20ª e última temporada na liga, o astro encontrou forças para ter uma atuação de gala na última partida, apesar do corpo doloroso e cansado, emocionando a torcida no Staples Centers: ele marcou 60 pontos na vitória sobre o Utah Jazz, por 101 a 96.

Neste contexto, a superação de um ídolo e o amor pelo esporte ajudaram a polir um pouco a imagem de quem era caracterizado principalmente pela inabalável vontade de vencer, um egoísmo frenético e uma arrogância polêmica. Quando chegou à NBA com apenas 17 anos, sem ter passado pela universidade, Kobe pensava em apenas uma coisa: se tornar um Michael Jordan.

E isso ficou evidente assim que entrou na quadra pela primeira vez, mostrando ter se inspirado na maneira de jogar e até nos trejeitos do astro do Chicago Bulls. As extraordinárias habilidades ofensivas, que sempre buscava melhorar com muito trabalho duro, e a frieza nos momentos decisivos dos jogos transformaram Kobe em um clone de Jordan. Foi assim por um bom tempo. Somente após muitos anos Kobe encontrou o próprio caminho, construído também por títulos que chegaram muito mais cedo na carreira do que para Jordan – que se tornou campeão da NBA pela primeira vez aos 28 anos.

Formando uma dupla demolidora – em todos os sentidos – com o pivô Shaquille O’Neal, Kobe foi campeão da liga pela primeira vez aos 22 anos. Aos 24, já tinha três troféus.

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– Ele joga um esporte individual disfarçado de equipe – escreveu mais tarde o técnico na autobiografia chamada “Eleven Rings”, ao admitir que não conseguiu mudar a personalidade individualista de Kobe.

A batalha de egos seguiu a todo vapor.

– Falei para os caras (da equipe) que ia matá-lo – declarou O’Neal na autobiografia.

Depois da derrota nas finais da NBA de 2003 para o Detroit Pistons, as críticas foram duras contra Kobe, acusado de egoísmo, de querer tomar todas as decisões e arremessos, apesar de um aproveitamento ruim dentro da quadra de 35%. Após este fracasso, O’Neal foi jogar no Miami Heat, enquanto Phil Jackson se aposentou. Sem as duas referências controladoras, Kobe se viu livre de qualquer restrição em quadra, o que culminou na partida em que marcou 81 pontos, em 22 de janeiro de 2006 contra o Toronto Raptors.

Estas façanhas individuais, porém, só lhe renderam um prêmio de Jogador Mais Valioso (tradução da sigla MVP, em inglês) da temporada, em 2008, o que mostra certa resistência dos especialistas com o jogo individualista de Kobe em um esporte coletivo. Kobe compreendeu que precisava mudar. E a mudança ganhou a forma da “Mamba Negra”, apelido que ele mesmo adotou após ver um filme de Bruce Lee, no qual o astro das artes marciais diz: “Menos é mais”.

Kobe entende então que precisa purificar o jogo e, com Phil Jackson novamente no comando dos Lakers, divide os holofotes com os companheiros, como o pivô espanhol Pau Gasol, famoso pelo jogo altruísta. O resultado desta mudança é refletida em quadra e Kobe consegue somar mais dois títulos ao currículo (2009 e 2010). Mas as lesões que se seguiram (ruptura do tendão de Aquiles, fratura no joelho) fizeram do fim de carreira uma agonia lenta.

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Kobe Bryant
(Foto: AFP)

O mundo se despede de Kobe Bryant

Do presidente norte-americano Donald Trump ao antecessor Barack Obama, passando pelas principais figuras do basquete e de outros esportes, assim como artistas, manifestaram o choque pela morte de Kobe Bryant, após a queda de um helicóptero no dia 26 de janeiro.

Dois números de abertura da cerimônia de premiação do Grammy no domingo à noite foram dedicados ao astro do Los Angeles Lakers, justamente no Staples Center, ginásio que o viu brilhar e onde centenas de fãs se reuniram para prestar homenagem.

– Esta noite é por Kobe! – gritou a cantora Lizzo.

Em seguida, a apresentadora da noite, Alicia Keys, fez um discurso emocionado e dedicou ao ex-jogador uma canção ao lado do grupo Boys II Men.

Shaquille O’Neal, que foi amigo e companheiro de time no Los Angeles Lakers, falou sobre este momento de grande tristeza:

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– Sem palavras para expressar a dor que eu estou sentindo com a tragédia de perder minha sobrinha Gigi e meu irmão Kobe. Amo vocês, e vocês farão falta. Minhas condolências à família Bryant e às famílias dos outros passageiros.

Os ex-colegas Magic Johnson e Michael Jordan e o atual astro dos Lakers, Le Bron James, também manifestaram consternação.

– Eu amava Kobe, ele era um irmão mais novo para mim. Conversávamos com frequência, vou sentir falta das conversas. Ele era um competidor feroz, um dos grandes do esporte e uma força criativa – lamentou Michael Jordan no Twitter.

Kobe Bryant
Fãs fazem homenagem a Kobe Bryant nos Estados Unidos (Foto: Apu Gomes, AFP)

O catarinense Tiago Splitter, primeiro brasileiro a conquistar o título da NBA, em 2014, com o San Antonio Spurs, usou as redes sociais para prestar homenagens. Postou fotos de duelos contra o ex-jogador dos Lakers no Instagram e no Twitter escreveu “RIP Mamba”.

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Campeão olímpico em Pequim-2008 e Londres-2012, Kobe era admirador do futebol, e foi homenageado por grandes estrelas como Neymar, Messi, Maradona e Cristiano Ronaldo.

– Todo meu carinho para a família e amigos de Kobe. Foi um prazer conhecê-lo e compartilhar bons momentos juntos – afirmou Messi no Instagram.

Neymar dedicou a Kobe o segundo gol na vitória do PSG sobre o Lille no último dia 26, fazendo um sinal do número 24 com as mãos, em referência ao número da camisa do norte-americano.

Ganhou tudo… até um Oscar

Kobe Bryant é considerado um dos melhores jogadores da história da NBA. Além dos títulos, pelo LA Lakers e pela seleção olímpica dos Estados Unidos, foi selecionado 18 vezes para o Jogo das Estrelas, 11 delas consecutivas.

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O legado de Kobe vai além dos títulos e recordes. Em 2018, ele ganhou o Oscar de melhor curta-metragem de animação por “Dear Basketball”.

Kobe Bryant
(Foto: AFP)