“Um dever solene”, para um, e “uma opção estratégica”, para outro. A visita de Kim Jong-un a seu colega Xi Jinping selou o reencontro entre China e Coreia do Norte, ansiosas para mostrar sua unidade na antessala da esperada cúpula entre Kim e Donald Trump.
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O dirigente norte-coreano terminou nesta quarta-feira (28) uma visita histórica à China, sua primeira viagem ao exterior desde que chegou ao poder em 2011 e que representou o retorno da China ao primeiro plano da diplomacia internacional.
A chegada do jovem líder a Pequim aconteceu semanas antes de dois encontros cruciais: um, com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in (no final de abril); e o outro, com o presidente americano, Donald Trump (antes do fim de maio).
Organizadas por Seul e por Pequim, essas aproximações recentes pareceram marcar uma marginalização diplomática do gigante asiático. Até a visita de Kim Jong-un à capital chinesa.
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Pequim e Pyongyang são aliados desde que combateram juntos na guerra da Coreia (1950-1953), e a China é, de longe, o primeiro sócio econômico da Coreia do Norte.
Mas o líder norte-coreano ainda não tinha se reunido com o presidente chinês, Xi Jinping, desde que sucedeu a seu pai Kim Jong-il há seis anos.
As relações bilaterais se tensionaram nos últimos anos por causa do apoio crescente de Pequim às sanções econômicas da ONU, destinadas a conter os programas balístico e nuclear de Pyongyang.
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Então, por que uma visita de Kim agora? Para Deng Yuwen, especialista chinês em Relações Internacionais, o jovem líder conta com Pequim para garantir a segurança de seu regime antes de seu encontro com Donald Trump.
“A Coreia do Norte precisa de seu irmão chinês para protegê-lo nesse momento crucial”, disse Deng à AFP.
“Kim busca, talvez, um relaxamento das sanções e também um apoio da China para obter garantias dos Estados Unidos em matéria de segurança”, aponta Bonnie Glaser, do Center for Strategic and International Studies (CSIS), em Washington.
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“Acredito que, talvez [ir a Pequim] lhe dê uma vantagem suplementar” antes das cúpulas com os presidentes sul-coreano e americano.
Trump acaba de nomear um “falcão” com fama de beligerante, John Bolton, como conselheiro de Segurança Nacion0al. Uma nomeação que avivou o temor de uma intervenção americana, se as negociações fracassarem.
– Nem bomba, nem reunificação –
O líder norte-coreano “precisará da compreensão e do apoio da China”, se esses diálogos fracassarem, afirma Hua Po, um analista político independente estabelecido em Pequim.
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“Foi por isso que Kim veio: para se coordenar com Pequim”, declarou à AFP.
Kim Jong-un disse que sua visita respondia ao “dever solene” de seguir os passos de seu avô e de seu pai, os dois dirigentes norte-coreanos anteriores, aliados próximos da China, segundo declarações publicadas pela agência de notícias norte-coreana KCNA.
Xi Jinping elogiou a amizade que une ambos os países, forjada durante a guerra da Coreia (1950-1953).
“É uma escolha estratégica e a única boa escolha possível entre ambos os países com base na História e na realidade”, declarou.
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Xi aceitou um convite para visitar a Coreia do Norte, segundo a KCNA.
E, embora a China celebre que as tensões na península coreana tenham-se apaziguado graças aos Jogos Olímpicos de Inverno realizado no mês passado na Coreia do Sul, deseja conservar toda sua influência sobre Pyongyang, considera o especialista na China Bill Bishop, editor do boletim “Sinocism”.
“[A China] não quer uma península coreana nuclearizada. Mas tampouco quer um avanço para a reunificação” entre as duas Coreias, avaliou.
Acima de tudo, a China teme que o regime de Kim Jong-un afunde. Isso poderia provocar um fluxo de refugiados e permitir ao Exército americano, já estabelecido na Coreia do Sul, mover-se na fronteira chinesa em uma Coreia potencialmente reunificada.
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Com tantas reuniões em vista, a atividade diplomática se anuncia como intensa.
Representantes de Seul e de Pyongyang vão-se reunir a partir de quinta-feira para preparar a cúpula intercoreana.
“A Coreia do Norte joga suas cartas diplomáticas de forma profissional e, além disso, de forma ordenada”, destaca Christopher Green, do International Crisis Group (ICG).
Green lembra que o pai do dirigente norte-coreano, Kim Jong-il, permaneceu em seu país nos seis primeiros anos de seu mandato “para consolidar seu poder ali, frequentemente com violência” antes de começar a se reunir com dirigentes estrangeiros.
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“É o mesmo modelo que Kim Jong-un está seguindo”, completou.
* AFP