Uma semana após a eleição do cético das mudanças climáticas Donald Trump para a Casa Branca, o secretário de Estado americano, John Kerry, disse nesta quarta-feira estar “confiante” de que os compromissos climáticos de Washington não podem ser revertidos, “independentemente de qual política seja escolhida” pelo sucessor de Barack Obama.
Continua depois da publicidade
“Posso dizer-lhes com confiança que os Estados Unidos estão cumprindo os objetivos internacionais” que o mundo se propôs no Acordo de Paris. (…) Não acredito que isso possa ser ou será revertido”, disse Kerry em um discurso durante a Conferência da ONU sobre o clima em Marrakesh (COP22).
“Ninguém tem o direito de tomar decisões que afetam milhões de pessoas baseado apenas em ideologia, sem os devidos dados”, acrescentou o chefe da diplomacia americana.
Trump afirmou durante a campanha eleitoral que as mudanças climáticas são um “mito” criado pela China e prometeu retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris.
O republicano não voltou a se manifestar publicamente sobre o tema desde sua vitória na eleição presidencial americana, há uma semana.
Continua depois da publicidade
O Acordo de Paris, assinado por 196 países em dezembro passado, estabelece o objetivo de limitar o aquecimento global médio abaixo de 2 graus Celsius em relação ao nível anterior à Revolução Industrial, através do corte de emissões de gases de efeito estufa resultantes da queima de combustíveis fósseis.
O pacto, que entrou em vigor em outubro, já foi ratificado por 110 países, incluindo Estados Unidos e China, os dois maiores emissores de gases que provocam o efeito estufa, e deve passar agora à fase implementação – o objetivo da Conferência de Marrakesh (COP22).
“Cada vez mais alarmante”
Kerry disse que a tendência global se afastou dos combustíveis fósseis, em direção a fontes mais verdes e renováveis.
“Este realmente é um ponto de inflexão. É um motivo para otimismo, apesar do que você vê em diferentes países com relação à política, à mudança”, disse o político, brincando que ele participaria da próxima reunião da ONU sobre o clima, em 2017, como “Cidadão Kerry”.
Continua depois da publicidade
Segundo Kerry, as forças do mercado, e não a política, ditarão o futuro energético do mundo: “O mercado se orienta claramente em direção às energias limpas, e essa tendência só vai se acentuar”.
“É por isso que estou confiante para o futuro, independentemente de qual política possa ser escolhida”, completou o secretário de Estado.
A reunião de Marrakesh começou a elaborar um roteiro para colocar em ação os objetivos do acordo, mas muitos temem que Trump cumprirá a sua promessa de retirar os Estados Unidos do processo, destruindo o impulso político acumulado ao longo de anos de duras negociações.
No seu pronunciamento, Kerry procurou ressaltar a gravidade do perigo que ameaça o mundo se não agirmos rapidamente.
Continua depois da publicidade
“O tempo não está do nosso lado. O mundo já está mudando a um ritmo cada vez mais alarmante, com consequências cada vez mais alarmantes”, disse Kerry, que fez da luta contra o aquecimento global uma prioridade no seu mandato.
“Em algum momento até o mais forte cético tem que reconhecer que algo perturbador está acontecendo”, afirmou.
mlr/ri/db/mvv