Criada em 1960 como um espaço de resistência, a Sociedade Kênia Clube, do bairro Floresta, permanece como principal referência da população negra em Joinville. O espaço, fundado para combater o racismo – há relatos de que os negros não podiam frequentar clubes na cidade – recebe até hoje atividades voltadas à valorização da cultura afrodescendente. Entre estas atividades, estão reuniões do movimento negro, ensaios de escola de samba e maracatu.

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Presidida atualmente por Sandro Daumiro da Silva, de 41 anos, a sociedade é um dos nove clubes negros presentes em Santa Catarina. Sandro, que foi vereador em Joinville e deputado estadual, está à frente atualmente da Coordenadoria da Igualdade Racial de Santa Catarina e conta que o racismo foi um dos motivos para a criação do clube na zona Sul de Joinville.

– O Kênia era muito frequentado porque essa questão racial era muito forte em Joinville. Não só a questão racial nos clubes sociais, mas em toda a cidade. O negro era privado de ir a alguns lugares de lazer. O Kênia era o ponto de referência da população negra – afirma.

Atualmente, a sociedade conta com vinte sócios. Sandro diz que as portas estão abertas para grupos que quiserem utilizar o local e que estuda a possibilidade de receber grupos da terceira idade e de capoeira na sede da sociedade, que fica na rua Botafogo. O espaço, que tem cerca de 1,5 mil metros quadrados, também é alugado para eventos particulares, principal atividade que mantém o clube atualmente.

– Nós lutamos para que o Kênia continue sendo essa referência, esse ponto de resistência da população negra em Joinville. Precisa ser utilizado para debater essas questões de igualdade racial e enfrentamento ao racismo, que são fundamentais na cidade – defende. Atualmente, o Kênia recebe reuniões do Coletivo Ashanti de Mulheres Negras de Joinville e do Movimento Negro Maria Laura, além de eventos em novembro, mês da Consciência Negra.

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Nos meses que antecedem o Carnaval, a sede se transforma num verdadeiro barracão. É ali que a Escola Príncipes do Samba faz os preparativos para a festa. A Sociedade Kênia Clube foi a primeira a formar uma escola de samba na cidade. A Escola de Samba Amigos do Kênia brincou o Carnaval pela primeira vez em 1968, com apenas 20 participantes, e só mais tarde tornou-se a Príncipes do Samba, deixando de pertencer à Sociedade Kênia Clube.

As amigas Zelândia Custódio da Silva, de 67 anos, e Luiza Verônica da Costa, de 83 anos, relembram os velhos tempos de Carnaval no Kênia. Elas lembram quando a sede ainda era só uma casa de madeira, diferente da estrutura atual. As duas sempre desfilaram na ala das baianas e têm saudades de quando saíam para brincar o Carnaval na rua.

– Era uma época boa. Dançávamos no Carnaval aqui em Joinville e depois íamos para São Francisco do Sul – lembra Zelândia, mais conhecida como dona Fioca, que, assim como Luiza, lamenta que Joinville tenha ficado sem Carnaval nos últimos anos. Agora, as duas torcem para estar na avenida em 2018 representando a Escola Príncipes do Samba.

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