Keiko Fujimori pode terminar o domingo, aos 41 anos, como a primeira mulher eleita presidente do Peru, vários anos depois de seu pai, Alberto, atualmente preso, ter governado o país, mas Pedro Pablo Kuczynski, ex-executivo de Wall Street, 77 anos, quer impedi-la e afirma que é o melhor candidato.
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O segundo turno de 5 de junho apresentará a resposta e definirá os próximos anos do país.
A filha que pretende redimir o pai
De primeira-dama aos 19 anos, Keiko Fujimori busca governar o Peru, como fez seu pai Alberto, apesar da pesada herança que ele deixou e que pode se transformar novamente em um obstáculo nas eleições de domingo.
A filha mais velha do ex-presidente detido Alberto Fujimori se encontra prestes, pela segunda vez, a vencer as eleições.
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Keiko carrega a herança de seu pai, que em seu governo (1990-2000) derrotou a feroz guerrilha do Sendero Luminoso e a hiperinflação deixada por seu antecessor, Alan García. Mas agora está preso e condenado a 25 anos de prisão como autor intelectual de dois massacres com 25 vítimas, e corrupção.
Favorita nas pesquisas e impulsionada pelo peso de seu sobrenome – que ainda rende créditos nas classes populares do Peru – Keiko realizou há uma década uma cruzada destinada a lavar a honra de sua família, atingida por uma série de escândalos de corrupção que ofuscaram a gestão do chefe do clã.
Impenetrável e fria, reconstruiu sua imagem pública buscando transmitir novos valores, como tolerância e paciência, em uma tentativa de se distanciar da imagem de autocrata de seu pai, que no dia 5 de abril de 1992 deu um autogolpe com o qual fechou o Congresso e tomou o controle das instituições do Estado, reelegendo-se duas vezes.
Para perpetuar a dinastia precisou vencer resistências dentro do fujimorismo, um complexo quebra-cabeças conservador onde se misturam empresários, tecnocratas do livre mercado e quadros de classe média que sonham que o Peru recupere o caminho da segurança cidadã e perpetue o crescimento econômico, cuja pedra angular é atribuída a Alberto Fujimori há 25 anos.
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Keiko, que em japonês significa “filha abençoada”, passou a metade de sua vida envolvida em política, onde entrou contra a sua vontade, segundo confessou em uma ocasião, por uma conjunção de circunstâncias familiares com um sinal em comum: ruptura.
Em 1994, aos 19 anos, a separação de seus pais, Alberto Fujimori e Susana Higushi, fez com que ela se tornasse primeira-dama, a mais jovem das Américas. Tudo em meio a um trauma familiar: sua mãe denunciou irmãos e familiares do então presidente por comercializar doações provenientes do Japão destinadas a pessoas pobres.
Aquela acusação levou Susana a ser torturada nos serviços de inteligência, denunciou ela mesma ante o Congresso. Keiko permaneceu por seis anos no cargo e desde então lida com a história de um governo que ela certa vez definiu como “o melhor da história no Peru”.
Afundado em um escândalo de corrupção, seu pai renunciou à presidência em novembro de 2000 com um fax a partir do Japão. Ela optou por ficar no Peru e enfrentou acusações por suposta má gestão de fundos públicos no pagamento de seus estudos nos Estados Unidos.
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Saiu limpa, e este episódio deu a ela uma imagem de coragem. Keiko enfrentou a batalha enquanto até os irmãos de seu pai se tornavam foragidos da justiça.
Em 2004 se casou em Lima com o italiano-americano Mark Villanella e se reconciliou com sua mãe, que a acompanha na campanha.
Uma viagem de Tóquio a Santiago do Chile acabou com Alberto Fujimori preso – por uma ordem de captura internacional – e com ela iniciando, mais uma vez por amor ao pai, sua carreira política como a congressista mais votada na eleição de 2006.
Mãe de duas filhas, Keiko disputou as eleições em 2011, mas foi derrotada por Ollanta Humala.
A derrota a fez compreender que deveria superar o perfil autoritário que marcava o fujimorismo. Renovou progressivamente o partido, que passou a ser chamado de Fuerza Popular, e deixou de lado a ala dura, identificada com o fujimorismo, mas sem romper com a tendência.
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“Me comprometo ao respeito irrestrito da ordem democrática e dos direitos humanos”, disse em um debate.
Hoje está perto de voltar ao palácio de governo, desta vez como presidente.
O “gringo” flautista e economista
“Dizem que estou velho, mas o coco (cérebro) e a experiência funcionam”. Aos 77 anos, Pedro Pablo Kuczynski, um ex-executivo de sucesso de Wall Street, afirma que poderia estar passeando de moto, mas prefere usar seus conhecimentos como presidente do futuro Peru.
“Meus amigos me disseram que poderia ir embora tranquilo, descansar, com minha (motocicleta) Harley (Davidson)”, disse Kuczynski, com experiência nos cargos de primeiro-ministro e ministro, que quer sacudir a imagem de “gringo”.
Nascido em Lima em 1938, ‘o gringo’ trabalhou duro para tentar superar a imagem de alguém afastado dos mais pobres – setor no qual Keiko Fujimori é popular.
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De pai alemão e mãe franco-suíça, o popular “PPK” é primo do diretor de cinema Jean-Luc Godard e sua vida foi de cinema: nasceu no Peru e acompanhou seu pai, médico, em trabalhos sociais nas florestas do país, mas foi educado no Reino Unido, Suíça e Estados Unidos.
Sua esposa Nancy, americana, é prima da atriz Jessica Lange.
Em 2011 esteve próximo de passar ao segundo turno e desta vez conseguiu, novamente com o partido Peruanos Por el Kambio, que carrega suas iniciais.
Precisou renunciar a sua nacionalidade americana em meio ao receio de seus compatriotas, que temem que isso possa servir para que ele fuja da justiça, como fez o peruano-japonês Alberto Fujimori. Explora sua imagem de experiência, valorizada pelos mercados.
Integrou as diretorias de várias empresas, razão pela qual seus opositores temem que, se chegar à presidência do Peru, defenderá interesses particulares.
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“São besteiras”, adverte. “Minhas mãos estão limpas”, afirma.
“Este será meu último trabalho, enquanto para a senhora Fujimori será seu primeiro trabalho”, disse, ao ironizar a falta de experiência da adversária.
PPK foi ministro de Minas e Energia no segundo governo de Fernando Belaúnde nos anos 1980 e depois da Economia e primeiro-ministro na gestão de Alejandro Toledo (2001-2006), período caracterizado por um avanço dos resultados econômicos do país.
Favorável ao livre mercado, planeja reduzir impostos para reativar uma economia exportadora tradicional e criar três milhões de empregos, com investimentos públicos e privados.
“Eu não sou político, sou um economista que quer fazer algo por seu país”, declarou o também concertista de flauta transversa do Royal College of Music, que trocou a música clássica pela música andina.
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No domingo ele vai saber se a sua melodia agradou o público.
* AFP