A explosão que mudou a história de uma vida e o rumo de uma família inteira durou frações de segundos. A apuração de tudo o que aconteceu e o desenrolar do processo criminal, contudo, já se arrastavam por mais de quatro anos. Mas ainda que nada mude as consequências da tragédia no Réveillon de 2008, em Barra Velha, o primeiro desfecho na Justiça permitiu um suspiro de alívio na casa da jovem Ana Paula da Silva, hoje com 25 anos.

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Em sentença assinada pelo juiz Iolmar Alves Baltazar, na última segunda-feira, foram condenados os três réus acusados de disparar o foguete que atingiu a cabeça da jovem na virada de 2008 para 2009. Cada um recebeu pena de quatro anos, quatro meses e 15 dias de prisão em regime semiaberto, mas terão o direito de apelar da decisão em liberdade.

Além do crime de lesão corporal gravíssima pelos ferimentos que quase causaram a morte de Ana Paula, também pesou na sentença as lesões corporais simples em outras três vítimas.

– Esperei tanto por esse resultado. A sensação é de surpresa e alívio. Não passar impune já seria uma resposta, afinal minha filha continua numa cadeira de rodas -, desabafou Rosali da Silva, mãe de Ana Paula.

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Avisada sobre a decisão pela reportagem do “A Notícia”, Rosali adiantou, ontem, que buscaria informações da sentença com o advogado da família antes de comentar o caso em detalhes.

Segundo a mãe, o processo de recuperação de Ana Paula tem sido lento e ainda apresenta poucos resultados. Acompanhada em trabalhos com fisioterapeuta e fonoaudiólogo em Guaramirim, onde mora com a família, ela continua com problemas de fala e de locomoção.

Por ter ficado muito debilitada, a jovem sequer pôde ser chamada para prestar depoimento à Justiça. Quem a representou foi o irmão, que estava junto dela na última noite de dezembro de 2008, no instante em que um rojão a atingiu.

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Nas 28 páginas em que fundamenta a sentença, o juiz classifica como “gambiarra” a estrutura improvisada pelos réus para acionar os fogos de artifício.

– Utilizando de forma inadequada o artefato explosivo e conhecendo a potencialidade lesiva do material, entendo que os acusados assumiram o risco de produzir o resultado -, escreveu. O entendimento é de que houve dolo eventual – quando não há intenção, mas assume-se o risco.

“AN” não conseguiu contato com os advogados que representam os réus porque o expediente no escritório deles, em São José dos Pinhais (PR), já havia encerrado.

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O que alegam os condenados

Gilberto Marinho Moraes, agente da Polícia Federal, afirmou que há anos tinha o costume de fazer uma queima de fogos no imóvel dele, em Barra Velha, sempre após a queima oficial da Prefeitura. Disse ter comprado cerca de seis ou sete varetas, além de uma bateria de fogos em São José dos Pinhais (PR). O dinheiro foi arrecadado com outros dois primos, também acusados. Argumenta que, por ser o mais experiente e ter preocupação com a segurança, naquela noite ficou responsável por acomodar os explosivos de vara antes do lançamento. Segundo disse, o material ficava apoiado em uma mureta de 1,90 metro de altura e a base era colocada nos orifícios de tijolos, conforme constaria na embalagem do produto. Naquela noite, alegou ter usado até dois tijolos maiores, supondo que o foguete teria de sair para cima. Afirmou ter tomado conhecimento do acidente com Ana Paula mas que, como seu imóvel ficava a cem metros do local, jamais imaginaria que um foguete chegaria naquela distância e que, se soubesse, não lançaria. Apontou que haveria barreiras naturais entre o sobrado e o posto, como uma antena e os carros na rua. Alegou, também, que na fase policial foram priorizadas apenas testemunhas de acusação.

Odair Luiz Moraes, prestador de serviços na área alfandegária, afirmou que soltava foguetes com os outros acusados há anos e nunca haviam tido problemas. Na noite do Réveillon, disse, estava na casa de Gilberto, seu primo, e acompanhou a queima de fogos da Prefeitura até por volta da 0h15.

Por volta de 1 hora, o grupo soltou uma bateria de fogos. Afirmou que Gilberto colocava os tijolos um em cima do outro e os escorava numa mureta. Segundo afirmou, o grupo acendia os fogos e corria para dentro do sobrado. Quando o foguete saía, voltava e via o foguete de lágrimas no céu. Alegou, ainda, que se o grupo tivesse tomado conhecimento do acidente com Ana Paula não teria soltado mais fogos.

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Luiz Vilmar Moraes, empresário, confirmou que, como há vários anos, passou o Réveillon na casa de Gilberto. Lá, segundo ele, acompanhou a queima de fogos da Prefeitura na parte de cima da casa por cerca de 15 minutos e desceu. Após confraternizar na parte de baixo, disse, subiu com os outros acusados para soltar os fogos. Afirmou que eles colocaram os explosivos dentro de dois ou três tijolos, ocasião em que eram manuseados por Gilberto. Contou que, a cada queima, corriam para dentro de casa para evitar as labaredas.