Os juros americanos, a guerra comercial, o efeito contágio: há algumas semanas, as moedas de vários países emergentes sofrem com esse cenário. Estes são alguns elementos que ajudam a entender a situação.

Continua depois da publicidade

– Epicentro –

A onda expansiva se formou quando o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) começou a subir suas taxas de juros. O efeito imediato foi o dólar ganhar força, encarecendo o custo de financiamento.

“Nesses casos, os ativos mais vulneráveis sempre são vendidos primeiro”, explica Isabelle Mateos y Lago, diretora-general da BlackRock Investment Institute.

Continua depois da publicidade

– Detonador comercial –

A decisão do Fed fragilizou a estrutura, mas não explica sozinha os movimentos violentos de algumas divisas nos últimos meses.

A inquietação com o vigor do crescimento chinês ampliou a pressão. Mas a verdadeira tensão se deve à guerra comercial.

O mundo emergente foi a “principal vítima colateral” do Fed e da guerra comercial dos Estados Unidos “que duplicou a pena”, escreveu Didier Saint-Georges, membro do comitê de investimentos de Carmignac.

Continua depois da publicidade

– A divisa: primeira vítima –

Quando há complicações, cria-se uma hierarquia entre os países e os ativos: as moedas são trocadas em um mercado muito grande e volátil, onde os investidores normalmente iniciam o movimento. Em seguida, vêm as ações e os títulos da dívida.

“Todos os ativos emergentes sofreram. A volatilidade mais forte afetou as divisas, mas as ações emergentes também perderam 11% desde que teve início o ano, e a dívida tampouco saiu ilesa”, resumiu Isabelle Mateos y Lago.

– Por que a moeda turca foi a primeira?

“Foram sobretudo as tensões pelo pastor americano preso na Turquia que serviram como detonador”, avaliou Regis Chatellier, analista da Société Générale CIB.

Continua depois da publicidade

“O país estabeleceu suas posições, o presidente americano respondeu impondo tarifas e os investidores começaram a ter medo, já que o país depende maciçamente do financiamento estrangeiro em dólares”, completou.

Desde então, a decisão do Banco Central turco de subir os juros fez a temperatura cair, mas a situação continua sendo frágil.

– Argentina, África do Sul e Indonésia: contágio ou exagero?

Depois da tensão com a lira turca, “os mercados procuraram a próxima vítima e quiseram repetir o mesmo com a Argentina”, analisa Chatellier.

Continua depois da publicidade

“A Argentina cumpria, teoricamente, todos os requisitos. Com a diferença de que tem o apoio do FMI”, observa especialista.

Ele acredita que a tensão com esse país “foi um pouco exagerada”.

“Para a África do Sul, o contexto é muito específico e a principal preocupação é com a reforma agrária”.

Já na Indonésia, “seu déficit externo é muito moderado, sua taxa de inflação é baixa, não há superaquecimento da economia e a configuração é diferente”, acrescenta.

Continua depois da publicidade

“Trata-se mais de pressões em países que têm uma situação particular”, avalia Jean-Marc Mercier, diretor da divisão de mercado de capitais do HSBC, que evoca ao contrário países “aonde tudo vai bem” como os do Oriente Médio, o Chile e até a Coreia do Sul.

– Primeiros sinais de crise mundial? –

Para muitos especialistas, a resistência da economia chinesa desempenhará um papel fundamental na prevenção do contágio em escala global.

A crise que aflige grandes economias emergentes não teve um efeito contagioso imediato “como no fim da década de 1990”, já que elas são “menos vulneráveis do que então”, reconheceu a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) na quinta-feira.

Continua depois da publicidade

“O agravamento das tensões comerciais pode exacerbar as fraquezas, especialmente se a China acabar sendo afetada, refletindo a crescente integração na rede de comércio global da maioria dos mercados emergentes nas últimas duas décadas”, explicou a organização.

* AFP