Mais de dois anos se passaram, mas as lembranças daquela manhã de 4 de maio de 2021 seguem na memória de centenas de pessoas. Foi em questão de minutos que três crianças e duas professoras foram assassinadas em uma creche de Saudades, no Oeste de Santa Catarina, mudando drasticamente os rumos da cidade de 10.265 habitantes. Desde então, famílias aguardam pelo julgamento do autor do ataque, que ocorrerá nesta quarta-feira (7), em Pinhalzinho, município também localizado na região.

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— Os únicos condenados são todas as famílias que perderam alguém naquele dia. Já ele vai cumprir a pena e vai sair [algum dia da prisão] — desabafa Risolete Fernandes de Barros, avó de Anna Bela F. de Barros, uma das vítimas do ataque.

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Além da menina, que na época tinha um ano e oito meses, também morreram Sarah Luiz Mahle Sehn, de um ano e sete meses; Murilo Massing, de um ano e nove meses; a assistente Mirla Renner, de 20 anos; e a professora Keli Anicevski, de 30 anos. As vítimas foram golpeadas com um facão pelo autor que, na época, tinha 18 anos.

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O julgamento, além das lembranças do trágico dia, também trouxe apreensão às famílias. O NSC Total entrou em contato com os parentes de algumas das vítimas. Muitos optaram por não dar entrevistas devido à ansiedade com a chegada da data.

Risolete, avó de Anna Bela, relata que a família segue apreensiva com o possível resultado, mas acredita na condenação do autor.

— Nós sabemos que ele vai ser condenado, por ter sido preso em flagrante, mas ele vai poder recorrer [da sentença]. Para nós vai ser um alívio, será uma parte que vai ser concluída. Não existe vitória em um processo desse. Eu acredito que vai ser feita Justiça, a sociedade precisa de uma resposta— pontua.

Defesa pediu mudança de local do julgamento

Em julho, a defesa do acusado pelo ataque pediu ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) a mudança do local onde ocorrerá o júri. Ele alegou que Pinhalzinho é um município pequeno, onde os moradores se conhecem e sabem sobre o ataque. Também afirmou que boa parte da lista dos jurados tem a mesma profissão que algumas das vítimas, o que tornaria a equipe parcial.

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O pedido, no entanto, foi rejeitado pela Justiça. Na decisão, o relator desembargador Sérgio Rizelo alegou que todos conhecem o caso e a profissão em comum entre jurados e familiares também não se caracteriza, já que “a escolha é arbitrária”.

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A defesa também solicitou que o homem não fosse julgado pelo Tribunal do Júri. O motivo, segundo o advogado Demetryus Eugenio Grapiglia, é que o acusado seria incapaz mentalmente na época das mortes. No entanto, o pedido também foi negado pelo TJSC.

Segundo Grapiglia, a expectativa é de que o júri acolha as informações apresentadas, para que possa decidir pela condenação ou não do autor. Outros detalhes da estratégia, no entanto, não foram informados.

A previsão é de que o julgamento dure mais de um dia. Na primeira etapa, estão previstas para serem ouvidas seis vítimas, oito testemunhas de acusação e quatro de defesa. Depois, ocorre o espaço para que acusação e defesa apresentem os argumentos, com réplica, para que, ao fim, os jurados decidam a sentença.

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Relembre o caso 

O crime ocorreu em 4 de maio de 2021. Um jovem de 18 anos entrou na creche Pró-Infância Aquarela, em Saudades, armado com uma adaga. Ele invadiu uma sala onde as crianças dormiam e desferiu golpes contra uma professora, uma agente educacional e quatro crianças. Apenas um bebê de um ano e oito meses sobreviveu.

O homem foi preso em flagrante no dia do crime. Durante as investigações, policiais encontraram indícios de inspiração em outros ataques a escolas, como os massacres de Suzano, em São Paulo, e o de Columbine, nos Estados Unidos. Ele segue detido em um hospital psiquiátrico em Florianópolis.

O réu é acusado de ter matado cinco pessoas, duas professoras e três bebês, e ter atentado contra a vida de mais 14 em maio de 2021. No total, os 19 crimes de homicídio, entre consumados e tentados, foram entendidos pelo Ministério Público como triplamente qualificados.

Confira o documentário “Um ano de Saudades”