O senhor de 51 anos, cabelos brancos, cuida da limpeza do banheiro da Posh, uma das casas noturnas mais badaladas de Jurerê Internacional, em Florianópolis. Após ser cumprimentado por um cliente, diz:
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– Esse aí é francês. Tem um carrão!
O francês sai do banheiro em direção à pista, onde estão mulheres lindas, com suas curvas à mostra. Ele poderá comprar um champanha de até R$ 7 mil. Já o auxiliar de limpeza precisaria trabalhar cinco noites só para pagar o ingresso da festa: R$ 400. Porque as baladas de Jurerê são famosas – mas para poucos.
A cena é na Posh, mas poderia ser no Cafe de la Musique, no Taikô, na Pacha ou no P12 – todas em Jurerê Internacional. No ano passado, o jornal The New York Times classificou Florianópolis como um dos lugares para ser visitado. Destacou, principalmente, essa praia e suas baladas. Por ali andam milionários, modelos e muitos famosos.
Neste mesmo dia, uma sexta-feira, o nadador César Cielo esteve lá, como no Réveillon. Quando entrou na Posh,foi fotografado em uma sala que recria o ambiente de um palácio renascentista. Móveis com madeira de lei, reprodução de pinturas da época e clássicos da literatura – embora os livros estejam tão altos que não possam ser alcançados.
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Do outro lado da parede fica a pista de dança, com um lustre típico de salão de festas. Ali, as pessoas dançavam ao som do DJ Erick Morillo. O cara é famoso, autor do hit I Like to Move It, que virou tema principal do filme de animação Madagascar. Enquanto ele toca, champanhas cruzam as pistas junto com bastões que soltam fogo. É assim que as bebidas caras chegam aos camarotes de R$ 20 mil.
Cielo também passou pelo Cafe de La Musique. O local funciona como um quiosque luxuoso de praia até o final da tarde. Depois, se transforma numa espécie de esquenta dos endinheirados, gente que pôs a mão no bolso para garantir camarotes de R$ 50 mil no Réveillon.
No Cafe, como os afortunados se referem carinhosamente ao local, o combustível da festa também é o champanha. Nem sempre a bebida é bebida.
– Cara, eles já fizeram guerra de champanha – admira-se um garçom.
::: O motor são as mulheres
Os valores envolvidos, a fama, o status, os modelos, cantores e globais que passam pela praia impressionam. Mas Bruxo, maître do Cafe de la Musique, sabe qual é a matéria-prima.
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– O motor de tudo é mulher bonita – resume. – São elas que fazem os caras gastarem. É por elas que os homens enchem os camarotes com champanha. Os donos das casas sabem disso. Cobram menos das garotas ou permitem que entrem sem pagar.
Elas fazem por merecer. Parecem esculpidas e tratadas no Photoshop. Ali no Cafe elas são mais elegantes, glamourosas, com seus vestidos esvoaçantes. Na noite, como na Posh, as armas ficam mais à mostra. Lá, parece proibido esconder as coxas.
As mulheres nem precisam se mexer para chamar atenção, mas têm o desplante de dançar. São tantas horas de academia reunidas na boate que, somadas, certamente dariam uma década. As clientes parecem as modelos que ficam perfiladas no grid da Fórmula-1.
– O termômetro é o consumo – filosofa o empresário Daniel Almeida, 23 anos, de Ribeirão Preto. – Quanto mais você gasta, mais elas chegam.
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Os mais VIPs dos VIPs
No Cafe, o dia começa às 10h, com garçons que atendem à beira-mar. Entre os clientes, é normal ver mulheres sem pena de colocar suas bolsas Louis Vuitton direto na areia. Claro que estão maquiadas e usam joias.
São 18h quando grades cercam o Cafe. O mundo exclusivo de contas bancárias milionárias começa a se formar. Para entrar, os homens precisam comprar ingressos que chegam a R$ 300. Para uma mulher, R$ 50 é suficiente.
Só que entre os VIPs há os mais VIPs ainda. No deck, onde um DJ já toca, três mesas em um nível mais baixo que o piso chamam a atenção. Ali são os camarotes, onde antes era uma piscina. Quando a luz começa a cair, os garçons preparam o ambiente. Champanha, vodca, água de coco, energético esperam os clientes. O espaço, para 15 pessoas, custa R$ 10 mil. Chegou a R$ 50 mil no Réveillon. Ficam ali pessoas como o empresário de Comércio Exterior Rinaldo Siqueira Campos, 47 anos. Morador de Brasília, passa as férias em Florianópolis.
– O atendimento é o melhor de tudo. As praias do Nordeste podem ser lindas, mas não têm este glamour.
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Na Posh, também há camarotes, ao redor da pista e atrás do DJ. No decorrer da noite, a pista começa a esvaziar, e as mulheres sobem aos locais exclusivos. Também surgem oportunidades para os homens.
– Quer entrar no camarote? – pergunta um segurança.
Ao ouvir sim, propõe:
– Custa R$ 100. Aproveita, é ali que estão as mulheres.
E os repórteres ficaram na pista.
::: Quem tem esse dinheiro?
No mesmo dia em que Cielo estava na Posh, um outro personagem era esperado. Desde o início da noite corria um burburinho entre os funcionários sobre a possibilidade da chegada do filho de Nicolas Sarkozy, presidente da França. Já era madrugada quando o herdeiro chegou. Poucos têm contato com o rapaz, vigiado por dois policiais federais e dois agentes do governo francês. Um segurança fez um relato singelo e esclarecedor.
– Ele é pálido, tem o cabelo loiro chanel e é gente boa. Parece o príncipe Adam antes de virar o He-Man.
Mas não é só campeão olímpico e filho de presidente que habita a noite de Jurerê. Bruxo, o maître do Cafe, explica que as baladas são frequentadas por empresários, advogados, médicos e engenheiros. Ele diz que o ponto alto da temporada foi entre 26 de dezembro e 3 de janeiro. A clientela era formada, principalmente, por paulistas e estrangeiros.
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Após o Réveillon, chegam os turistas do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasília e Rio Grande do Sul. O público cumpre a mesma rotina dos antecessores: praia e esquenta no Cafe; festa até o amanhecer na Posh.
O segurança Diego Cadelho, 28 anos, também passou pelo Cafe. Ele foi escalado para uma missão pelo investidor do Corinthians Wilson Roberto, que paga parte dos salários de estrelas como Ronaldo e Roberto Carlos. Ir até o local e ver se a festa está animada. Pelo iPhone, relatou a situação para o patrão, que analisaria se compensava deixar a cobertura onde está hospedado.
No Cafe, já teve casos de um empresário que pediu 90 champanhas. Não para tomar, mas para distribuir entre os clientes da festa. E também já teve um endinheirado que tentou sair sem pagar. Os seguranças o barraram, ele passou o cartão e pagou os R$ 7 mil.
Só que a maioria sai de forma bem melhor. O dia amanhece em Florianópolis. Na Posh, o som dos motores possantes dos carros estacionados se mistura ao barulho da passarada. Tem Maserati, Jaguar, Porsche, Mercedes, Audi, BMW e uma Ferrari.
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Os muito ricos seguem para suas mansões em Jurerê Internacional. Vão descansar em camas King Size porque no dia seguinte tem mais.