“Tenho uma notícia boa!” Dadá trazia um olhar sem maldade e uma expressão angelical quando terminou a frase. “A Paula quebrou o pulso e não vai jogar”. A Paula é a melhor jogadora do time adversário e sua ausência abria a possibilidade de vitória ao time de Dadá.

Continua depois da publicidade

Manhã de sábado. Tempo frio e chuvoso, a família levantou antes das sete da manhã para assistir ao jogo na quadra coberta do grêmio recreativo de uma grande empresa. Três escolas participavam das finais do campeonato de basquete feminino, jovens de 12 a 14 anos aqueciam-se trajando apenas bermudas e camisetas, a arrancar lamentos dos pais nas arquibancadas. Juízes, professores e mesários a postos, um silvo estridente indica o início da partida, bola ao alto e começa a correria. Não há tática, nem muita habilidade, são crianças sendo iniciadas no esporte.

Leia mais notícias de Joinville e região.

A certa altura da partida, o juiz apita uma falta, indica o número da jogadora, pressiona os cotovelos contra o corpo indicando que fora uma obstrução, ergue o braço com o indicador e o médio em riste e grita: dois arremessos! A jovem do time adversário se prepara para o arremesso, uma mãe grita da arquibancada: “Vai errar! Vai errar!” A ela, junta-se um coro de torcedores. A jovem atleta desperdiça o primeiro arremesso, para deleite dos que torcem contra, mas acerta o segundo e o jogo continua.

Tanto a felicidade de Dadá porque a adversária quebrou o pulso, quanto o berro de uma mãe torcendo contra são atitudes emblemáticas de nossa sociedade pobre de espírito. O campeonato reúne jovens que estão iniciando no esporte e que não precisam da vitória para continuar. Precisam e merecem ensinamento básico sobre a modalidade, treino e atitude desportiva. O que se viu foi uma sociedade que não premia a qualidade de um jogador, mas a vitória a qualquer custo. Torcer para o erro de uma jovem que pode, quem sabe, representar o País em um campeonato, uma copa ou uma olimpíada é torcer contra si mesmo. É tolher sonhos, é mesquinhez pura e simples.

Continua depois da publicidade

Expliquei a Dadá que seria muito mais prazeroso vencer o jogo com a Paula em quadra do que chegar em primeiro sendo o segundo. E se não vencesse, tudo bem, pois faz parte da vida vencer e perder, faz parte da vida entender o momento, vivê-lo plenamente e comemorar a plenos pulmões uma cesta de dois pontos, num jogo em que se perdia de 26 a zero para o time da Paula.