É uma dessas confeitarias de nome francês, com uma composição chique-retrô que anda na moda por esses dias, creio serem feitos de madeira de demolição os móveis espalhados pelas pequenas salas. Estampas de fazenda, muito floridas, dão um ar bucólico. As cores das cadeiras não compõem sobretons, são diversas e aleatórias, o que também creio ser moda por esses dias. O balcão oferece as mais delicadas guloseimas, pães de todo tipo, infinitas combinações de sabores em cestas de vime ou refrigerados atrás de um vidro que se assemelha a uma exposição de arte.

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Os olhos de Cláudia expõem a gula incontida e a eterna dúvida da escolha. Isso é bom, mas aquilo é maravilhoso, olha este, que delícia deve ser…

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Entre a hesitação e o assombro, define-se por uma torta repleta de cremes e cores e um café cappuccino. “Para o senhor?”, interroga-me a moça de avental e lenço na cabeça. Peço um café com leite e dois pães com manteiga. “Na chapa ou frio?”. Ah, verbetes lárapios e ardis! Pão frio parece algo tão insosso e pobre, mas é esse mesmo que escolho para contrariar a semiótica. Sentamo-nos em uma mesa de canto, em frente a uma janela que dá para o jardim. Cláudia olha-me em silêncio, mas traz no semblante uma pergunta latente. Ergo as duas sobrancelhas num claro sinal de que sei que ela tem algo a dizer, pois que diga. “A gente vem a um lugar desses! Sabe? Um lugar assim… E você pede pão com manteiga?”

Entendo sua descrença, mas há dias em que tudo o que desejo é um café paulista, simples, com quatro itens apenas, mas que me fará feliz pela manhã inteira. Quando cheguei a Joinville, não foram poucas as vezes que troquei o almoço pelo café da manhã, repleto de musses, pães de cenoura, de batata, de aipim, de leite, caseiro. Mas, com o tempo, minhas origens foram tomando conta do que era novidade e encantamento. Meu dia começa, de fato, quando sorvo o primeiro gole de café com leite e dou a primeira mordida num pão francês estalando por fora, macio por dentro, com manteiga passada nas duas bandas, não importa se na mesa de casa ou num jardim europeu ao pé de uma montanha mágica.

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