Uma melodia, um arranjo, uma boa letra ou uma saudade. São muitos os motivos que nos fazem gostar de uma música. Por mais que eu me identifique com o samba, a velha e a nova MPB e a sonoridade das flautas, meu ecletismo não me permite esconder uma dose generosa de apreço pela música sertaneja, da moda de viola aos estilos atuais. Identifico, mas quase não incomodam, os erros de português e um ou outro clichê que trazem, porque vejo em boa parte das composições sertanejas um jeito honesto de expor emoções. Creio que o sucesso do gênero se dá exatamente pelo sentimento explícito em acordes menores. Quem não sofreu por amor ou não se afogou de breguice numa irremediável fossa?
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A palavra é minha estrada, é por onde caminho mais confortavelmente e, nas letras das canções atuais tenho encontrado a poesia honesta e o humor escrachado. Divirto-me e emociono-me na mesma medida. Uma das músicas que tocam diariamente nas rádios trata de uma mulher abandonada, que se depara com o ex, “na pior”, e canta: “Foi se aventurar e agora ficou só, ai que dó / Eu tô aqui festando e você na pior, ai que dó / Hoje vive chorando, lembrando de nós, ai que dó / Ai que dó o quê, eu quero ver você sofrer”. “Ai que Dó” é a volta por cima, o escracho, o desprezo sincero.
Por outro lado, um grupo de jovens meninos, intitulado, curiosamente, de Troia, declara amor eterno ao dizer: “Ainda que perdesse a memória, teria o coração / Ainda que essa parte da história seja solidão / Eu não vou deixar, não vou desistir de nós dois”. Não é belíssimo dizer que o amor vencerá até a perda da memória? Imagine, apenas imagine um amor assim.
Não é também o amor fonte de gafes e vergonhas? É isso que se tem em outra música de grande sucesso nas rádios: “Esquece toda essa besteira que você já leu / Não ?tá? mais aqui o trouxa que escreveu / É culpa da bebida, foi só recaída, pelo amor de Deus / Esquece. Percebi que ?tá? melhor do que eu / Esse beijo que deu nele, ?cê? nunca me deu. / Continua o que ?cê tá? fazendo / ?Cê? vai beijando, eu vou bebendo.”
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Você já deve ter ouvido pelo menos uma dessas músicas, talvez tenha gostado, talvez tenha mudado de estação. Mas não podemos negar que há uma identidade muito forte aí, há uma traço cultural fortíssimo do povo brasileiro. Brasileiro que sou, permito entregar-me a todo sentimento, inclusive meu sentimento sertanejo, que eu nem supunha existir.