Vende-se, troca-se, doa-se, escamba-se.

Há um grupo na internet chamado Classificados Joinville, no qual se posta de tudo: de pia velha a apartamento com frente para o mar. Proliferam-se anúncios de venda de celular e geminado em construção. Encontram-se também, vez ou outra, anúncios menos convencionais e propagandas de serviços. Recentemente, um rapaz da cidade de São Paulo postou seu desejo de mudar-se para Joinville. No enunciado, perguntava sobre o momento atual da cidade, se há emprego, se o transporte é bom e se é verdade que chove todo dia. Em meio a algumas piadas e inúmeros louvores à cidade, via-se um povo feliz e receptivo. Ia o anúncio com quase cem comentários, a maioria alvissareira para o jovem paulista. Contudo, e sempre é assim, o que mais me chamou a atenção foi uma crítica feroz a desdizer toda a beleza da cidade. Por destino ou coincidência, o homem chama-se Itamar.

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Para certificar-me de que o leitor entendeu, reproduzo chiste que certamente funcionaria melhor em voz alta: “Ih! Tá mar!” Reclamou de emprego, do transporte, do joinvilense e da chuva. Pensei, em princípio, que tentava dissuadir o moço de São Paulo, pelo simples fato de não querer dividir o ar com nenhum forasteiro mais, mas ao ler atentamente, ficaram claros a infelicidade e o rancor nos comentários. Ih! Tá mar pra ele! Mas tá bom pra maioria, que escreveu mensagens de incentivo e, não raras vezes, fez convite ao moço para vir desfrutar da vida em Joinville.

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Cheguei aqui em 1984, após um arroubo de encantamento de meu pai que dizia ter encontrado o paraíso, ao ver as casas ajardinadas de muro baixo. A cidade se apresentou receptiva, mas ao mesmo tempo preocupada com a chegada em grande número de migrantes, vindos especialmente do Paraná.

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Trinta e dois anos depois, Joinville é quase cosmopolita, desenvolve-se em alto ritmo, mas mantém algumas marcas de cidade interiorana. Um amigo meu costuma dizer que em Joinville o poste faz xixi no cachorro, tamanhas suas peculiaridades.

Deixo também meu recado ao moço de São Paulo:

– Passe uma semana aqui, de um domingo a outro; passeie a pé e pegue um ônibus; assista a um jogo do JEC e a uma peça teatral na Cidadela Antarctica; leia os jornais; vá à Vila Gastronômica, mas conheça o Jardim Paraíso; banhe-se no Piraí, mas evite cair no Cachoeira; pegue a Dona Francisca no Centro e vá até o pé da serra; puxe assunto; descubra gírias; e, se vier, saiba que você terá que se adaptar a Joinville e não ela a você.