É bonita a metáfora do beija-flor que leva uma gota d’água em seu bico para conter o incêndio na floresta. Quem não se comove com a atitude quase insana, com a ingenuidade quase santa do incansável pássaro? Leio que o beija-flor é “mensageiro dos deuses e simboliza o renascimento, a delicadeza e a cura. Além de ter propriedades mágicas, este passarinho pode ser considerado também um símbolo de alegria e energia, uma vez que bate as suas asas com bastante determinação e força e tem um batimento cardíaco bastante acelerado”.

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Nesta semana, os beija-flores receberam duro golpe (mais um!), ao tentar conter um incêndio que vem dizimando os direitos e a vida. Lobos que não se disfarçam mais de ovelhas atacam covardemente e à luz do dia a justiça e os direitos de um povo, enquanto a floresta está em chamas, e aqueles que deveriam carregar baldes de água democrática bebem do líquido, extasiam-se, deixam escorrer pelo queixo, babam, riem, vociferam seu poder.

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Meu beija-flor vem perdendo magia, alegria e energia. Não entende ver os deputados e o presidente (?!) escancararem seus crimes e não rubescerem. De que valem as leis e a Constituição se nada pode tirá-los do poder, se nada pode punir suas falcatruas tão petulantemente expostas? Onde está a Justiça, que não tem força ou competência para agir? O que nos resta? Um ataque de beija-flores? Uma invasão para, com bicadas e ferros e armas e coquetéis e insanidade, colocar para fora os criminosos que habitam os parlatórios deste País?

Mas o que mais entristece e desanima o beija-flor é ver que não há mais panelas, que quem as empunhou tempos atrás não está disposto a enchê-las de água e combater o incêndio. Em breve estaremos todos em chama, e as coisas podem sair do controle. Temo que o País esteja perto de uma guerra civil. Ninguém apanha tanto e não reage, ninguém aguenta por tanto tempo o calor do incêndio a queimar-lhe o rosto e corroer sua alma. Ninguém fica eternamente jogando pingo d’água em incêndio.

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