Olhar por um telescópio dá a dimensão de nossa pequenez. Você já teve contato com imagens ou teorias astronômicas, de certo, e deve saber da sensação de impotência que toma a mente frágil do ser frágil que somos diante da imensidão do universo. É essa mesma sensação que tenho, talvez um pouco mais inquietante, quando leio sobre a pós-verdade e aplico-a em nossa realidade no ano da graça de 2017.
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O termo pós-verdade é usado para definir a situação em que apelos emocionais e crenças pessoais influenciam mais do que os fatos. É como se o mundo da fantasia tomasse conta de nossos dias e que tudo fosse representado e aceito na esfera mítica e ficcional. Há uma imagem muito compartilhada nas redes sociais digitais, assinada por Shovel, que parece explicar com alto poder de síntese a que se refere a pós-verdade: na primeira, sob o título Verdade, um desenho do filósofo francês René Descartes e sua frase “penso, logo existo”; a segunda imagem, sob o título “Pós-verdade”, um homem dos dias atuais e a frase “acredito, logo estou certo”.
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Não é temerário que a fé, qual seja, antes pessoal, livre e intransferível, tenha ganho status de lei para julgar homens e sociedade em plena vida terrena? Ou que a dúvida, algoz e mártir dos avanços científicos, tome o lugar dos fatos, que é, por sua vez, base da Justiça? Discorro tendo em mente as inúmeras situações da vida de quem vive, sejam pequenas discussões diárias ou gigantescos embates políticos. Na pós-verdade, algo que aparente ser verdade é mais importante que a própria verdade, o que torna qualquer acusação, fato determinante para um julgamento. Se eu disser que você roubou minha ideia, você será, automaticamente, colocado no posto de plagiário porque fatos são menos importantes e o estrago em sua imagem já terá sido feito.
O mundo caminha para trás e assim será enquanto houver sede de poder de uns e falta de discernimento de outros; enquanto a religião deixar de ser caminho de espiritualização individual para ser alicerce de julgamentos.
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