Sentados, ainda, à mesa do jantar, a conversa regada a vinho verde ia das relações de amor à política, a partir das visões de uma jornalista, uma psicóloga, um consultor para assuntos de acessibilidade, uma estudante de história e o cronista. De tão bom o cardápio, o vinho e a conversa, só deram conta do horário quando o relógio apontou quatro da manhã.

Continua depois da publicidade

Prismas políticos convergentes, teoria sobre relacionamentos muito próximas e semelhantes visões sobre o mundo atual, este que anda a gerir e ampliar um abismo escandaloso entre quem pensa de um jeito e quem pensa de outro. Concordamos que nunca tanta gente vomitou tanta verdade, nunca tantos tolos tiveram tanta certeza, nunca expor ideias foi tão amedrontador. Daí que estar nesse grupo, com pessoas esclarecidas e ponderadas, fez da noite um momento de raro prazer. Mesmo quando o tema feminismo veio à tona e expôs divergências. O consultor e o cronista, que ainda trazem a contragosto uma cultura patriarcal, herdada dos pais e de toda a sociedade, argumentaram que nem tudo é fruto do machismo, como abrir a porta do carro, por exemplo. Afinal, isso é apenas gesto de gentileza.

Leia mais notícias de Joinville e região.

“Se abre para mulher, tem que abrir para o homem também. Vocês abrem?” Dito assim, pareceu-lhes correto, mas ainda não lhes parecia atitude machista. De tudo o que se falou, isso foi o que deixou o cronista mais desconcertado, ainda mais quando rotulado como “esquerdo-macho”, palavra horrorosa de significado mais horroroso ainda, no qual ele tem certeza que não se encaixa.

O esquerdo-macho é uma denominação criada para classificar o homem de esquerda, criativo, articulado, adepto das causas das minorias, mas que, no fundo, é um machista que se revela com a convivência.

Continua depois da publicidade

O cronista continua triste com o rótulo atribuído a ele e, por mais que entenda as causas do feminismo, acredita que há, algumas vezes, um radicalismo que pode atrasar conquistas. Quando perdemos a capacidade de ser sutis? Quando abrir a porta do carro virou agressão? Para avançar, é mesmo necessário romper com tudo? Ele insiste que não.