A primeira vez que Lynlee foi vista não estava no seu melhor estado e Margaret Boemer dormia anestesiada. A pequena texana pesava 530 gramas e habitava o útero de sua mãe havia apenas 23 semanas. Uma equipe médica a recepcionou, separou de si um tumor que vinha competindo com ela por sangue e elevando seu risco de ter uma falência cardíaca.

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O teratoma sacrococcígeo (com esse nome, só podia ser coisa ruim!) tinha quase o mesmo tamanho de Lynlee e as chances de a cirurgia não ser bem-sucedida eram de 50%. “A escolha era entre deixar o tumor fazer o coração dela parar ou dar a ela uma chance de vida. Foi uma decisão fácil”, contou Margaret a um jornal.

O coração de Lynlee parou de funcionar durante a cirurgia, mas um especialista conseguiu mantê-la viva. A ciência travava uma luta árdua contra a natureza e vencia. Vinte minutos depois, a pequena foi colocada de volta no útero de Margaret, que despertou com alguma dor, mas com uma ótima notícia. Doze semanas de total repouso e enorme apreensão, até que no dia 6 de junho, por meio de uma cirurgia cesariana, Lynlee nasceu pela segunda vez, pesando quase dois quilos e meio e saudável.

Talvez haja um deus por trás disso, talvez não. Pode ser que espíritos de luz tenham acompanhado todo o procedimento e, quiçá, segurado mão e bisturi; também pode ser que não. Talvez a ciência tenha todo o mérito e isso é tudo o que há no universo. Talvez a vida seja uma grande ilusão, um “matrix” infinito, uma sequência de códigos binários que nos conduz num roteiro alucinado e encantador. Mas o certo é que Lynlee tem uma chance enorme de fazer a vida valer a pena. Oh, quanto clichê! E o que vale a pena na vida? O que Margaret e Lynlee terão para contar, além do inusitado da cirurgia em ambas e da poesia contida na frase “nascer duas vezes”? Que tudo valha a pena na vida, que cada atitude seja um modo de ir adiante e sentir-se viva. Mas é preciso que Lynlee saiba o que a gente insiste em não aprender: só se nasce duas vezes uma vez, mas pode-se morrer inúmeras.

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* Crônica a partir de matéria “Nascida duas vezes: bebê é retirada do útero, operada e colocada de volta por mais três meses”, publicada no portal G1.