Assistia, com minhas sobrinhas Fernanda e Eduarda, a um vídeo sobre tradução de títulos do cinema. Estava em foco a grande indústria cinematográfica estadunidense e as adaptações dos títulos para a língua portuguesa. O produtor do vídeo (youtuber) ria aos berros sobre traduções feitas em Portugal, algumas, de fato, estranhíssimas, e defendia a manutenção dos títulos em inglês. A certa altura, ele questiona se há alguma lei em Portugal que proíba estrangeirismos. O senhor Google não me ajudou, minha pesquisa ruiu e não sei a resposta. Contudo, creio que haja uma preocupação com a manutenção de termos em português. É sabido que Portugal trata a língua com mais zelo do que o Brasil.

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Por aqui, um senador criou um projeto de lei em 2001 proibindo estrangeirismos, mas, mesmo aprovado em algumas comissões internas, não se transformou em lei. Não creio que seja solução criar um muro para impedir a entrada de palavras estrangeiras. O estrangeirismo é um fenômeno social, se dá por um processo natural de cultura por proximidade geográfica, influência, modismo e, evidentemente, pela potência econômica de um país em determinada época. No início do século 20, era a língua francesa que influenciava nossa cultura, com termos ainda hoje falados: abajur, balé, sutiã, batom, toalete, garçom. Hoje é a língua inglesa que empresta palavras à nossa língua.

Alguns linguistas dizem que se trata mesmo de empréstimo, que tudo passa, os modismos e estrangeirismos linguísticos também. Confesso não apreciar esse empréstimo. Por isso, faço coro a Mia Couto, escritor moçambicano, que recentemente disse em entrevista a um canal da ONU que falar português é militância pela diversidade no mundo de hoje. Acrescento: talvez daqui a milênios, todos falemos inglês, finda essa Torre de Babel, mas onde repousará a diversidade? Que será feita da beleza do idioma português? Ontem à noite, assisti ao filme “Vida de Menina”, baseado no livro homônimo, de Helena Morley, história que se passa por volta de 1890. Mesmo coloquial, vemos uma língua portuguesa riquíssima, não encontrada nas coloquialidades atuais. Parece-me que o estrangeirismo, aliado a outros fatores que bem sabemos, anda empobrecendo nossa língua.

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