Ginge e júbilo liaram-se quando, de um outeiro, o líder gritou: “Caiu! Caiu!”. Braços erguidos, brados tal bramos ecoavam ali e alhures e a quilômetros, no exato local onde um governo central ruía, desconexo e frágil. Semelhava-se a outros grandes momentos da história, quando brotara de solo inóspito o escol de uma nova era, em que justos haveriam de ser os atos e o fito, e um novo alvorecer resplandeceria tal qual luz a agasalhar rebento.
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Foram dias de interminável fé. O frescor dos fatos tem o poder de mil alavancas. Rédito de batalha política, um horizonte a se mirar. “Talvez seja o fim”, receou alguém descrente de seus méritos na vida; “Talvez seja o céu”, ousou uma ovelha; “Há de não durar”, escreveu um filósofo de redes sociais, temeroso das mudanças. Era tudo e tão somente um lapso, decurso do tempo que o universo se encarregaria de corrigir, pois que os que ascenderam, cingiram o poder e, tal qual os depostos, traziam artimanhas e truques.
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Seguiram-se, então, dias de espanto, decepção e resignação. Como podiam os líderes da revolução traírem seu povo? Com que alma assinavam a falência de uma sociedade? Quem, no mundo, era digno de confiança? Como se estabelecera essa idiossincrasia, essa visão torpe e abjeta da humanidade?
Cartazes, a tinta e medo, trepidavam nas mãos da escumalha, em idioma de outras paragens, por veia despatriota ou porque o mundo precisava saber: “I see humans, but no humanity”. Nem toda comunicação do mundo poderia explicar o fato à turba, nem havia mais clemência para se oferecer. Foram reduzidos a lenda os numes de outrora. Sob os pés, a aridez de um caminho sem volta, sem trilhas, nesgas de se deitar e desfalecer.
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Do alto de sua soberania espúria e vil, o novo líder abria um vinho de safra antiga. Ouvidos moucos, delibação e oscitação.
Texto escrito a partir de um desafio que o autor se impôs, de iniciar e terminar a crônica com palavras sugeridas a ele nas redes sociais. Escolheu “ginge” (calafrio causado por uma emoção) e “oscitação” (bocejo).