É arte o silêncio. Não aquele que, abrupto, recai sobre discussão acesa. Silêncio é arte quando é casa, não refúgio.

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É arte deixar-se estar, simplesmente, sem a pressa do que urge dizer, sem as ganas do que se deseja impor. É arte não poluir os pensamentos com os paus e as pedras que as palavras contêm. É arte dar livre acesso ao pensamento que flui, ao som que emana ao redor. É arte silenciar-se diante do novo, do intangível, mas também o é silenciar-se diante do corriqueiro, do comum. Em tudo há aprendizado e é no silêncio que se pondera, que se visualiza, que se entende.

Mente quieta, espinha ereta, coração tranquilo. Receita de paz.

Mas há tanto a nos tirar o sossego, tanta urgência e tanta notícia. Como silenciar diante de tudo? Daquilo que nos incomoda e daquilo que nos impede? Como silenciar sem que sons do futuro nos venham “pré-ocupar” e tirar o espaço do que desocupado estava porque era silêncio e descanso? Alguém disse que vivemos relembrando o passado ou planejando o futuro, e isso nos impede de viver o presente. É que os ruídos do passado ainda ecoam e as engrenagens do futuro ganem.

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Uma garota via o pai mostrar-lhe uma bandeira. Ele a agitava, fazendo-a ir de um lado a outro. A garota, que também tinha uma bandeira na mão, apenas observava. O pai pensou que ela não era inteligente bastante ou não tinha a coordenação motora necessária. Desistiu. Segundos depois, olhou de novo para a filha e a viu tremular sua pequena bandeira. Durante a demonstração do pai, ela silenciou para observar. Quando sentiu-se segura, balançou sua bandeira tanto ou melhor do que o pai fizera.

Não temos tempo para o silêncio e o aprendizado? Que arte é essa, a do silêncio, que deveríamos dominar desde sempre, porque é instinto aprender e sobreviver, mas que parece tão difícil? Se fosse o som coisa de ver, um satélite posto a observar os ruídos da Terra mostraria a balbúrdia febril das línguas soltas chacoalhando em várias direções, sem que ouvidos (que há em dobro no mundo) fossem suficientes para entender tudo o que é dito. Também porque, na falta de silêncio, verdade é pouca.