As redes antissociais, como costuma chamar um jornalista esportivo, são um ótimo retrato antropológico em que as máscaras da sociedade organizada, regida por leis e censuras morais, caem. O humano em estado digital está nu, e a visão não é atraente para quem acredita no sucesso dos planos de Deus. Vamos ao que me trouxe:Entre as redes antissociais, tenho preferência pelo Twitter, talvez porque nela tenho mais liberdade para escolher de quem quero saber notícias, talvez porque o número de caracteres limite grandes discursos descabidos, ou a hipocrisia pareça menor em seu tamanho. Na última quarta-feira, terminadas as tarefas do dia, sento-me para assistir a um pouco de futebol e dedicar-me à angústia de torcedor que, em muito, é maior e mais atraente que as angústias da vida.

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É intervalo de jogo, meu time vence fora de casa e resolvo ler comentários no Twitter. Deparo-me com o texto de uma pessoa de nome estrangeiro: ¿Vamos lá, Brasil! Não podemos permitir esse ataque à Nação! Essa Lei da Migração é uma barbárie! #VetaTemer¿. Como se vê, o texto é absurdamente exclamativo, como convém a quem quer gritar por escrito por não ter argumentos que em baixos decibéis convença.

A lei em questão desburocratiza e regulamenta a situação de estrangeiros que vivem e trabalham no Brasil. É sabida a enorme burocracia para se obter documentação atualmente. A partir desta lei, o migrante terá direitos como cidadão do País. Foi aprovada no Senado e aguarda sanção da Presidência.

Voltando ao Twitter e à moça de nome estrangeiro, leio, na sequência, resposta à exclamativa posição dela: ¿O que seria dos (cita o sobrenome da moça) se o Brasil barrasse imigrantes? Somos um país de imigrantes¿. Dou razão, curto e aplaudo de pé o moço. De tanta necessidade de ter razão, esquecemos de onde viemos, nos perdemos de quem somos, rompemos com a história e nos achamos dignos de irromper as redes com impropérios. Não esqueçamos que somos feitos da história que nos trouxe e não dá para se alienar disso.

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Na TV, um jogador estrangeiro faz o segundo gol do meu time.

* Jura Arruda é escritor.