As datas comemorativas, religiosas ou comerciais, têm seus valores. Devem ter. Sejam para relembrar, adorar ou vender. Ao redor do globo, milhões (bilhões?) de pessoas importam-se com datas. Eu não vejo, na maioria delas, graça, nem por quê. Principalmente quando o tempo e as mudanças culturais reinventam significados.Diante do teclado, penso se devo aproveitar o Sábado de Aleluia para expor o que penso e ganhar sua antipatia. Talvez seja melhor não falar da Páscoa, nem da Sexta-feira da Paixão, nem de hoje. Mas aviso que não vou malhar Judas, porque sou contra a violência e a pena de morte. Faço um exercício de compreensão: se Judas traiu e Jesus virou mártir, ele foi ferramenta do Deus cristão para dar andamento aos seus planos. É isso, não é? Não sou um voraz devorador de literatura religiosa, nem visitante de templos, devo ignorar muita coisa. Muitas doutrinas são, para mim, incompreensíveis porque se necessita do prisma da fé.
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Sobre liturgias e apetites:”Ovo bom, para mim, é ovo frito”, disse um amigo, com o qual concordo na hora do almoço e discordo na sobremesa. Meu pai foi açougueiro, só folgava na Sexta-feira Santa e, por alguma relação com isso, à mesa de nossa família não havia carne. Eu, que não era grande apreciador de peixe, obrigava-me, sem saber o motivo da dieta. A família nunca fora católica, mas se ocupava das cerimônias. As crianças, que nada sabiam, sabiam apenas que não se podia comer carne, e isso bastava. Era como se a sexta-feira os redimisse para gozarem o Domingo de Páscoa. Uma festa relacionada a alguma fauna fantástica em que coelhos põem ovos de chocolate e crianças se lambuzam sob a conivência dos pais. Outro não entendimento, mas que importava menos, era o de que ovo de chocolate ao leite tem gosto diferente de barra de chocolate ao leite.
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Como se vê, a data sempre foi comemorada por motivos diferentes, e ela está aí de novo. Eu respeito as liturgias e as crenças, por achar que todos têm direito a tocar a vida como convier e crer e alimentar fé. Eu, que depois de adulto passei a apreciar as mais diversas receitas com peixes, compartilharei à mesa e, no domingo, vou roubar lascas de ovos dos sobrinhos, sem cerimônia. Sobre blasfêmias e julgamentos, conversamos em outra data.
* Jura Arruda é escritor.
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