Joinville não tem feira de rua, o que talvez mais eu tenha lamentado desde que por aqui cheguei. Muitos reclamam do calor abafado da cidade, outros falam dos dias de chuva. Há os que dizem que em Joinville não se tem o que fazer, por desconhecerem tudo o que se tem para fazer. Eu lamento a falta da feira de rua, do feirante gritando sua oferta, das bacias de plástico coloridas contendo a quantidade exata de cenoura, vagem ou berinjela. Dos carrinhos de feira enroscando-se e do pastel no início ou no final da enorme serpente de barracas, onde um chinês ou uma chinesa atende com suas hábeis mãos orientais.

Continua depois da publicidade

Os cheiros se misturam na feira de rua à medida do caminhar da clientela. Dos cheiro de óleo e pastéis, bastam cinco passos e o cheiro é de gelo e peixe; mais um pouco e exalam-se odores de linguiças defumadas; outros passos adiante, e invadem as narinas os temperos e iguarias; depois, verduras; depois, as frutas; e, misturando-se a tudo isso, toda sorte de perfumes de toda gente.

Confira mais notícias de Joinville e região.

Também os sons se misturam na feira de rua, dos gritos dos feirantes às conversas da clientela, da bulha inerente aos sons da cidade que buzina e acelera. Há frutas cortadas para degustação e convencimento.

É hora do almoço, o que era fresco ganha roupa de oferta, porque não é lucrativo para os feirantes voltar com as mercadorias para casa. É quando se dá a hora da xepa.

Continua depois da publicidade

Xepa – s.f. Bras. Pop. Comida de quartel. Comida ordinária. Mercadorias que sobram da venda diária nas feiras-livres e que, quando perecíveis, são dadas ou oferecidas a

baixo preço.

A hora da xepa faz a feira mudar de padrão. O público, agora, é formado por quem tem fome, por quem deseja uma história diferente, por quem espera seu momento de banquetear.

Há, sim, uma feira em Joinville conhecida como Feira do Livro. Não é semanal, é anual. Tem sons, tem cheiro, tem bulha, tem ofertas e a entrada é livre. A diferença é que parece que na Feira do Livro de Joinville é sempre hora da xepa. Não porque os livros são perecíveis, longe disso. Mas porque a literatura parece não ser mais atrativa, não ter frescor, não encantar. Hoje tem início a 13ª Feira do livro de Joinville. Que seja um momento de saborear esse alimento para não morrermos de ignorância.