Aquele lá é o meu marido – conta Niva Siqueira da Silva, toda orgulhosa, enquanto inclina os olhos na direção do amado.

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Da cadeira de rodas, sem muita mobilidade, ela acompanha com a vista a chegada de Norberto da Silva, que se inclina sobre o andador em passadas firmes. Ele se senta próximo à esposa, em uma poltrona, e, num tom de voz alto de quem pouco escuta, garante estar muito confortável. Acompanhado da cuidadora, o único casal do Lar de Idosos Betânia, em Joinville, pode não ter o vigor e a saúde de outrora, mas em gestos demonstra o apreço imenso que ainda um nutre pelo outro.

No município histórico da Lapa, no Paraná, Niva nasceu em 26 de junho de 1914. Prestes a completar um século de vida, 74 deles ao lado do companheiro, a doce senhora se firma no amor e cuidados que recebe de Norberto para lidar com a falta de memória. Eles se conheceram na cidade paranaense, para onde o jovem havia sido enviado para servir ao Exército. Após o casamento, em 16 de julho de 1940, mudaram-se para Joinville e ele foi trabalhar como torneiro mecânico – profissão que exerceu até a aposentadoria.

Norberto é natural da Vila da Glória, em São Francisco do Sul. Nasceu em 23 de março de 1915, filho de uma grande família. Muito saudável, sempre apreciou atividades físicas. Andou a vida toda de bicicleta – só aposentou a magrela após os 90 anos, quando passou a andar de ônibus. Quando jovem, nadava muito e participava de competições de remo. Com aptidão para consertos manuais, era ele quem, até pouco tempo atrás, arrumava qualquer problema elétrico ou hidráulico em casa.

Já a calma Niva se encarregava dos cuidados domésticos, como era tão comum na geração deles. Tiveram dois filhos: Norton, hoje com 73 anos, e Neusa, com 68. A família cresceu e a ela uniram-se cinco netas e dez bisnetos.

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Muito independentes, faziam de tudo sozinhos, contando sempre com o apoio do outro. Faz oito meses que saíram do apartamento onde moravam após terem a casa destruída por uma enchente. Juntos, eles dividem a vida no Lar Betânia, e sua história de amor não é mais apenas deles, mas compartilhada diariamente com dezenas de idosos ansiosos por afeto e companhia.