Saint- Honoré, Via della Spiga ou Regent Street. De look total jeans, calça skinny com a barra dobrada e sapato de camurça bico fino, Juliano Borges Mendes bem poderia ser o homem que desfila pelas ruas mais fashion de Paris, Milão ou Londres. Ele eventualmente até passeia por elas, mas é a XV de Novembro, em Blumenau, e a Avenida Dos Atiradores, em Pomerode, as vias que mais assistem ao blumenauense de 39 anos passear os looks de iniciado em moda.

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No visual, um dos fundadores da Eisenbahn destoa bastante da working class que lota as calçadas do Centro de Blumenau vizinhas ao pub The Basement Pub, mais um empreendimento da família Mendes.

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Mas, apesar das aparências, são as semelhanças com o povo que não tiram Juliano da cidade-polo do Vale do Itajaí, conhecida pelas marcas indeléveis deixadas pela colonização alemã que vão desde o pendor para cervejadas ou almoços regados à joelho de porco, à motivação para o trabalho acima da média brasileira. Supercapitalizado depois da venda da Eisenbahn para o Grupo Schin, em 2008, Juliano poderia estar recomeçando um negócio em qualquer outro lugar, dentro ou fora do Brasil. Mas não arreda o pé do Vale.

Meu “Meu avô nasceu em Biguaçu e foi para o Oeste quando não tinha nada lá.Também foi um dos colonizadores de São Lourenço do Oeste. Meu pai nasceu em Carazinho, se criou em Chapecó e fez faculdade em Floripa. Quando se formou em Engenharia Mecânica arrumou um emprego em Blumenau e veio pra cá. Eu e meu irmão nascemos no meio dessa influência“.

Na verdade, Juliano é mais worklover do que workaholic. Durante a entrevista, ele ilustra sua relação com o trabalho usando uma frase de Confúcio:” Escolha um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia da tua vida”. O bom gosto e a paixão pelo novo exibidos no visual são características fortes na porção empresário. Há 12 anos, quando montou a Eisenbahn ao lado do pai e do irmão, o negócio de cerveja especiais praticamente não existia no Brasil.

Taxados de malucos pelo investimento neste segmento no país onde apenas a pilsen é consumida em quantidades industriais e garrafas de 600ml, eles pagaram pra ver. Mais do que apresentar aos brasileiros a pale ale e a dunkel, eles foram os vetores de uma nova forma de consumir cerveja, voltada para a degustação e a descoberta de novos sabores.

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Contrariando prognósticos pessimistas, o público não apenas estava preparado para o produto, como estava ávido por ele. Em apenas seis anos, a cervejaria despertou a cobiça de três gigantes do segmento.

“Gosto das coisas certinhas e de profissionalismo. Em Blumenau as pessoas são assim.”

Após a venda, a Juliano foi dado o cargo de gerente de marketing de cervejas especiais da Schin. Durante um ano, ele morou na capital paulista.

– Gosto de São Paulo em função das opções de lazer. Mas eu trabalhava muito e nem aproveitava os restaurantes ( risos). Saía tarde da empresa, chegava no flat e seguia trabalhando. A violência e o trânsito infernal também incomodavam muito – relembra o filho de Jarbas e Eliane, irmão mais velho de Bruno e pai de Catarina, 10 anos, e Joana, 4.

Entre tantas idas e vindas entre São Paulo- Blumenau, numa sexta- feira Juliano chegou mais cedo na terra natal, pegou a filha Catarina e foi para o Parque Ramiro Ruediger. O céu azul de Blumenau, o sol brilhando num dia frio e o momento especial com minha filha, que naquela época eu só via nos finais de semana, me fizeram ter certeza que meu lugar era aqui. Neste momento, ele teve certeza que seu lugar era ali.

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Depois do retorno, nasceu o The Basement Pub, inaugurado há pouco mais de quatro anos. A história foi a mesma: sem mesinha na rua ou uma área ampla para ver e ser visto, o gastropub de decoração sóbria e inspiração inglesa foi montado no porão de uma casa centenária e, ao contrário do que se poderia imaginar, segue fazendo fila na porta.

Agora, na fase de maturação da mais nova empresa, a Vermont Queijos Finos, a ideia é levar produtos diferenciados para um público que Juliano julga pronto para descobrir um novo universo.

– Ao contrário do que todo mundo faz, não vamos adaptar o queijo ao paladar brasileiro. Na teoria, esse paladar não quer cheiro e nem sabor forte. A ideia é ir educando e aculturando e mostrar o quanto a harmonização do queijo com a cerveja pode ser mais rica do que com o vinho – comenta.

Enquanto esperam caminhar a parte burocrática da Vermont, Juliano e o irmão Bruno escrevem o Diário do Queijo, blog que revela os bastidores sobre a criação da empresa.

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Por conta da iniciativa é que a dupla foi chamada pelo Estadão Pequenas e Médias Empresas ( PME) para colaborar, semanalmente, com o Blog do Empreendedor. Dada tamanha abertura, a dupla é questionada: e se alguém roubar a ideia?

– Não nos preocupamos com isso. O fundamental é ter paixão. Esse é o nosso diferencial.

Queijos finos, paixão recente

Juliano Mendes na empresa onde produzirá a linha de queijos finos Vermont

Apesar da proximidade geográfica entre Blumenau e Pomerode, a cidade vizinha nunca chegou a fazer parte da história de Juliano Mendes. Só recentemente, com a compra da Laticínios Pomerode, fábrica que produz queijos fundidos e, que, no futuro passará a produzir a linha de queijos finos Vermont, é que o empresário passou a frequentar a cidade.

– Acho que quando a gente começa a ficar velho muda de opinião. No colégio quem era de Pomerode sofria bullying, mas agora eu acho que são eles que têm qualidade de vida. Hoje acho que gostaria mais de morar aqui do que em Blumenau. Além do sossego, em Pomerode todo mundo se ajuda.

Um almoço com o empresário em uma das confeitarias típicas da charmosa Pomerode deixa claro: Juliano já é uma das pessoas mais conhecidas da cidade, cumprimentando e sendo cumprimentado por onde passa. Ele gosta desse flanar entre amigos e conhecidos:

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– Quando morei em Boston ( depois de se formar em Administração na FURB Juliano foi estudar em Harvard) sentia falta dessa rede de contatos e de laços que tenho aqui. Lá eu não era ninguém e ninguém me conhecia. Sentia falta de conversar na rua e encontrar as pessoas – confessa.

Hoje, além de Pomerode, Balneário Camboriú também faz parte da rotina de Juliano. Com a nova mulher, Karina, as duas filhas e a enteada, o empresário passa os finais de semana na casa da praia do Estaleiro, onde cozinha para a família e fotografa barquinhos na areia. De fato, o lifestyle high low resume Juliano.