Em todo Brasil, o sétimo mês do ano é conhecido como Julho das Pretas, que marca a luta das mulheres negras latino-americanas e caribenhas no combate ao racismo, à discriminação e à desigualdade de gênero. A data foi reconhecida em 1992 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e, no país, o dia 25 de julho foi escolhido para representar a comemoração.
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O ícone brasileiro desta luta é Tereza de Benguela, uma líder quilombola da região do Mato Grosso, que viveu no século 18 e tornou-se símbolo de resistência na luta contra a escravidão. Três séculos se passaram e a história de Tereza ainda representa a de muitas mulheres pretas, mesmo que as lutas e as dores sejam diferentes.
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Rachel Maia, presidente do Conselho do Pacto Global da ONU no Brasil e primeira negra a ser CEO de uma empresa no país, diz que a sociedade é naturalmente excludente para a mulher preta, principalmente as de pele mais retinta.
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— A mulher preta, por muitos anos, foi tratada apenas como empregada, apenas como escrava, reprodutora e mãe solo. A sociedade impôs o mindset de quanto mais clara sua pele, menos excludente [ela é]. Nós tivemos uma fase de embranquecimento. Isso é tão fato que eu ouvia meus tios e meus avós pretos, de pele retinta, dizendo em casa: “quanto mais clara sua namorada for, melhor”. Essa é a nossa cultura, é a nossa realidade. Quanto mais escura, menos receptiva a sociedade seria — pontua Rachel.
Em Santa Catarina, onde mais de 76% da população de autodeclara branca, as mulheres pretas têm um desafio a mais na conquista por direitos e oportunidades. No Estado, a luta vai além da sobrevivência: ela busca por visibilidade, reconhecimento e justiça.
A antropóloga da UFSC Cauane Maia destaca que as mulheres pretas estiveram presentes em diversos acontecimentos e feitos importantes para a história e construção do Estado, no entanto, pouco se aborda sobre isso em registros oficiais.
— Em Santa Catarina, a gente tem esse critério um pouco peculiar, que é entender a ocupação que essas presenças negras são submetidas historicamente. A gente tem mulheres negras construindo e alicerçando a cultura, a educação, a música, as artes plásticas, a intelectualidade catarinense. Mas quase nunca essas presenças aparecem quando falamos sobre a história de SC. Então, esse também é um lugar que precisamos tensionar — destaca.
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Para a pesquisadora, o 25 de julho tem grande conexão com a história e protagonismo das mulheres pretas catarinenses.
— São essas mulheres que usam da sua voz política, da sua força e das duas estratégias para preparar as novas gerações. Então esse sentido de aquilombamento, esse sentido de coletividade vão atravessar essas vivências.
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