O primeiro julgamento por um caso de bebês roubados na era franquista na Espanha foi suspenso nesta quarta-feira porque o acusado, dr. Eduardo Vela, precisou ser internado de emergência por um problema de saúde.

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“Hoje ele não pode comparecer porque se encontra nesta situação, portanto não podemos continuar com a realização do julgamento neste momento”, indicou a juíza María Luisa Aparicio no tribunal de Madri.

O tribunal espera conhecer mais detalhes sobre o estado de saúde de Vela – que sentiu dores e enjoos durante a noite de terça – para fixar a nova data da audiência.

Eduardo Vela, 85 anos e um antigo obstetra da clínica San Ramón, em Madri, é acusado pela funcionária ferroviária Inés Madrigal, 49 anos, de tê-la separado de sua mãe biológica e falsificar sua certidão de nascimento, em junho de 1969.

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A promotoria pede 11 anos de prisão para o médico, que foi interrogado por meia hora na audiência inicial na terça-feira. A segunda audiência deveria acontecer nesta quarta e não há data prevista para a divulgação da sentença.

Em junho de 1969, médico “presenteou” Inés Pérez com uma menina, que foi registrada como sua filha biológica. A menina em questão, Inés Madrigal, ficou sabendo aos 18 anos que era adotada, em uma conversa com sua mãe.

Mais tarde, em 2010, lendo na imprensa um artigo sobre “os bebês roubados” no franquismo, descobriu que a clínica onde nasceu, fechada em 1982, era um dos centros do tráfico de crianças nos anos 1960 e 1970.

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Esse tráfico, iniciado depois da Guerra Civil espanhola (1936-1939), envolveu milhares de crianças, segundo associações que militam para que todos os casos sejam solucionados.

Por fim, descobriu que sua certidão de nascimento, em que constava a assinatura de Vela, era falsificada.

Esse tipo de tráfico perdurou após a morte do ditador, em 1975. A prática foi mantida por razões econômicas e durou até pelo menos 1987, quando se adotou uma lei que, em seu preâmbulo, criticava “o odioso tráfico de crianças, denunciado nos meios de comunicação”.

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Ante o juiz de instrução, Vela reconheceu, em 2013, ter assinado sem ler o expediente médico indicando que assistiu ao parto. Mas na terça, ante o tribunal, alegou não de recordar de nada e não reconheceu sua assinatura. “Isso não é meu, não me recordo”, afirmou.

Segundo as associações, ao menos 2.000 denúncias de fatos similares foram apresentadas aos tribunais, sem que nenhuma chegasse ao final.

Os casos estão arquivados, já que os tribunais afirmam que não há provas suficientes, ou que os fatos prescreveram.

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Estes roubos de crianças começaram com a ditadura de Franco. O objetivo era punir os partidários da II República (1931-1936) liquidada pelo general golpista, acusados de transmitir “o gene vermelho do marxismo”, acrescenta Duque.

O fenômeno logo atingiria as crianças nascidas fora do casamento, ou famílias pobres ou muito numerosas. Foram adotadas clandestinamente por casais estéreis ou ligadas ao regime.

* AFP