Em outubro de 2014, o Brasil viveu o ápice da mais disputada eleição presidencial de sua história. Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) dividiram quase ao meio um eleitorado de 112,6 milhões de pessoas — 54,5 milhões para a petista, reeleita, 51 milhões para o tucano. Um embate acirrado, com muitos golpes acima e abaixo da cintura e que revelou-se posteriormente permeado por crimes eleitorais. O Brasil saiu diferente daquela disputa.

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Hoje o país tem um encontro marcado com 2014. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começa a julgar se a campanha de Dilma cometeu abuso do poder político e econômico durante as eleições que levaram à manutenção do projeto petista no poder. A ação foi movida pelo derrotado PSDB em um quadro político completamente diferente, quando a via da cassação eleitoral parecia a forma mais simples de retomar o Planalto que exíguos 3,5 milhões de votos impediram na urna.

Todo o caos político que vivemos estava desenhado na eleição de 2014. A Operação Lava-Jato dava seus primeiros passos e indicava plenas condições de descortinar a parceria público-privada praticada por políticos e empresários. A consolidação de um raivoso anti-petismo também era mapeável pela facilidade com que parte do eleitorado que tentava derrotar Dilma migrou de Aécio para Marina Silva (então PSB) e depois voltou para o tucano ignorando quaisquer pontos programáticos ou características individuais de candidatos tão diferentes. O acirramento do ¿nós contra eles¿ como discurso eleitoral petista também foi fundamental naquele resultado.

No momento em que o ministro Herman Benjamin, do TSE, começar a ler seu voto indicando a cassação da chapa liderada por Dilma e completada pelo hoje presidente Michel Temer (PMDB), os olhos do país estarão voltados para a consequência prática do julgamento: a continuidade ou não do controverso peemedebista que assumiu a República após o impeachment, a possibilidade de eleições diretas ou indiretas caso se confirme esta queda. Os demais ministros, no entanto, deveriam olhar para a história.

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As acusações contra a chapa Dilma/Temer fariam cair qualquer governador ou prefeito julgado pelo mesmo tribunal. Temer se agarra a uma agenda de reformas e ao apoio parlamentar que ainda mantém para segurar-se no cargo mesmo depois de ser flagrado em conversas pouco republicanas com Joesley Batista, da JBS. Sua salvação, se acontecer, será política. As delações da Odebrecht e JBS mostram que se Aécio tivesse derrotado Dilma, talvez estivesse passando por um julgamento semelhante. A crise política atual nasceu naquela disputa. Cabe ao TSE garantir que 2014 acabe — e que não se repita.