Seja qual for o futuro político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que será decidido nesta quarta-feira em julgamento no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, a certeza é de que o desfecho da sessão terá as atenções dos catarinenses tanto em SC como no Estado vizinho.
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Uma caravana de aproximadamente cem ônibus foi mobilizada na noite desta segunda-feira para deslocar grupos de militantes do PT e de simpatizantes do ex-presidente das cidades catarinenses até a capital gaúcha. Manifestantes pró-Lula têm como ponto de encontro a área do Anfiteatro Pôr do Sol, um espaço voltado a shows e eventos a céu aberto de Porto Alegre.
Cerca de 3 mil pessoas já estavam acampadas desde segunda no local, segundo a assessoria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Só de Florianópolis partiram 15 ônibus rumo ao acampamento às 23 horas desta segunda-feira. O PT em Santa Catarina não agendou eventos com militantes nas cidades do Estado para esta terça ou quarta-feira porque a prioridade do partido é que a militância esteja concentrada em Porto Alegre.
Ou seja, não há previsão de que grupos de militantes catarinenses se reúnam para acompanhar o julgamento por telão, por exemplo. Parte dos ônibus que saiu de Santa Catarina deverá voltar ainda nesta terça ao Estado, após o término dos atos programados em defesa do ex-presidente na véspera do julgamento, mas o PT anunciou que a maioria dos militantes seguirá em vigília na capital gaúcha até o julgamento.
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Presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann confirmou que Lula estará em Porto Alegre nesta terça. O principal ato com a presença do ex-presidente será na Esquina Democrática, no centro da cidade, ainda sem horário definido. No local, Lula discursará ao lado de outros integrantes do partido. Ele deve deixar Porto Alegre até o fim do dia e acompanhará o julgamento em São Paulo.
Todas as lideranças do PT em Santa Catarina foram convocadas para os atos em Porto Alegre. Nomes como o presidente da legenda no Estado, o deputado federal Décio Lima, e o também deputado federal Pedro Uczai, além da ex-senadora Ideli Salvatti, já estão desde segunda no Estado vizinho para acompanhar o julgamento.
—O que nos traz a Porto Alegre é a certeza de que este momento é um marco regulatório para a nossa história em relação à afirmação dos valores democráticos e do Estado de direito— anunciou Décio Lima.
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Se os desembargadores do TRF4 mantiverem a condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, imposta pelo juiz Sergio Moro em primeira instância, Lula ficará inelegível com base na Lei da Ficha Limpa. O ex-presidente ainda teria possibilidade de recursos no próprio TRF4 e no Supremo Tribunal Federal (STF) para fazer constar seu nome nas urnas, mas o rótulo de candidato “sob judice” colocaria em dúvida a permanência dele na campanha eleitoral.
Caso o desfecho seja de reviravolta, com Lula absolvido e sem impedimento para concorrer no dia 7 de outubro, não há dúvida de que o ex-presidente seria o rosto mais identificado com a esquerda e oposição ao atual governo na corrida pelo Planalto.
Julgamento começa a definir cenário eleitoral
É praticamente consenso entre as lideranças políticas de Santa Catarina que a disputa pela presidência — e, por consequência, aos demais cargos — depende da definição desses dois cenários a partir do julgamento em Porto Alegre.
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—A população brasileira aguarda esse julgamento como um divisor de águas do processo. Com mais clareza dos possíveis atores, o processo de alianças e de construções de candidaturas fica mais claro, consistente — aponta o deputado federal e pré-candidato ao governo do Estado pelo PMDB, Mauro Mariani.
Entendimento parecido manifesta o deputado federal Esperidião Amin, líder do PP no Estado.
—Seja qual for o resultado (do julgamento), o desenho do cenário político começa a ser traçado à tinta. Até agora era a lápis. Também acho que, para o Brasil, para a democracia brasileira, seria bom que o Lula pudesse disputar a eleição — avalia.
Também pré-candidato ao governo do Estado, o deputado estadual e líder do PSD, Gelson Merisio, aposta em uma “eleição diferente” em outubro, independentemente do julgamento no TRF4. Presidente do PSDB no Estado, o deputado estadual Marcos Vieira espera por uma “Justiça soberana”, ou seja, que acene pela condenação do ex-presidente.
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O QUE DIZEM AS LIDERANÇAS PARTIDÁRIAS EM SC
Deputado federal Esperidião Amin, presidente do PP em SC
“A partir desse momento se abre o processo eleitoral no Brasil. Seja qual for o resultado, o desenho do cenário político começa a ser traçado à tinta. Até agora era a lápis. Também acho que, para o Brasil, para a democracia brasileira, seria bom que o Lula pudesse disputar a eleição. O pior de tudo é a construção de um mito. E o mito, o Lula, ganharia a eleição se fosse candidato? Não vai ser enfraquecido por uma legítima decisão da Justiça, do ponto de vista político, se ele for considerado inelegível e não puder disputar. Toda a narrativa do golpe não será enfraquecida, será fortalecida, se ele não puder ser candidato. “
Deputado federal Décio Lima, presidente do PT em SC
“O que nos traz a Porto Alegre é a certeza de que este momento é um marco regulatório para a nossa história em relação à afirmação dos valores democráticos e do Estado de direito. Não viemos apenas para o julgamento de uma pessoa, viemos para manifestar profunda indignação com os acontecimentos em curso na história do país. O resultado do julgamento pode trazer uma mácula profunda na conquista da democracia que o Brasil vive, objeto do maior período de vida democrática do país, 38 anos. Ela se viu diante de um processo de exceção com o golpe que se institucionalizou desde 2016. Este resultado também faz parte da agenda que rasga o Estado de direito e o título democrático.”
Deputado federal Mauro Mariani, presidente do PMDB em SC
“Será certamente um fato significante e influenciador no processo eleitoral de 2018. É uma decisão que cabe à Justiça, não guardo expectativa nem de um lado nem de outro. Na minha opinião, o processo eleitoral já poderia ser um julgamento definitivo. Mas não vivemos um tempo normal. É um momento de extrema dificuldade no campo político e todos os partidos, as grandes lideranças têm enfrentado esse tipo de dificuldade. A população brasileira aguarda esse julgamento como um divisor de águas do processo. Com mais clareza dos possíveis atores, o processo de alianças e de construções de candidaturas fica mais claro, consistente. Por enquanto é um território completamente imprevisível. Quero crer que esse julgamento estabeleça um novo encaminhamento eleitoral, especialmente dos partidos de esquerda.”
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Deputado estadual Marcos Vieira, presidente do PSDB em SC
“O PSDB de Santa Catarina é a favor de todo e qualquer tipo de investigação, independentemente da cor partidária. Se cometeu delito, que a Justiça o puna. É isso o que esperamos, que efetivamente a Justiça seja soberana, que examine os fatos e tome a decisão de acordo com o que manda a lei. Claro que a extrema esquerda tem um quinhão da sociedade, como a extrema direita também tem. Mas quero crer que, no momento certo, especialmente em Santa Catarina, o eleitor vai saber votar.”
Deputado estadual Gelson Merisio, presidente do PSD em SC
“Independentemente do resultado, tenho a convicção de que vamos vivenciar uma eleição diferente em vários aspectos neste ano. E, sem dúvida, o que definirá o futuro do país é o eleitor, que cada vez mais acompanha de perto o processo, está informado e deixara o seu recado nas urnas.”