O juiz Tiago Fachin, preso durante a operação que investiga suposto esquema de tráfico de medicamentos, teria gastado mais de R$ 2 milhões na compra dos produtos. As informações constam na investigação do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) ao qual o NSC Total teve acesso. O magistrado foi liberado após audiência de custódia na terça-feira (23).
Continua depois da publicidade
Receba as principais informações de Santa Catarina pelo WhatsApp
Conforme o processo, Fachin é apontado como o principal “cliente” do grupo. O primeiro contato com um dos investigados teria ocorrido em 2015, quando enviou uma mensagem perguntando o valor do medicamento. Ao longo dos anos, ele teria trocado várias mensagens com o homem, além de ter adquirido o produto em outras oportunidades.
Ao todo, teriam ocorrido 342 movimentações, o que gerou um repasse R$ 2.492.539,50 ao esquema.
Exclusivo: os bastidores da operação que gerou a prisão de um juiz em SC
Continua depois da publicidade
O processo narra, ainda, uma situação envolvendo o juiz e um motoboy, que seria quem entregava o medicamento ao magistrado. Segundo o MP, o motociclista foi abordado em um posto de combustíveis em Rio do Sul, no Alto Vale, com uma caixa que continha 24 cartelas com 20 comprimidos do medicamento. Ele teria informado que faria a entrega para Fachin.
O juiz, então, teria chegado no local e confirmado que era o dono dos medicamentos, apresentando uma receita médica de 2017, com o nome da esposa. Porém, os remédios foram apreendidos pela PM e encaminhados à delegacia.
Ainda consta no processo que o magistrado tentou pedir ao comandante da polícia para que liberasse o medicamento, o que foi negado.
Também é citado que Fachin teria utilizado da função de magistrado para “beneficiar os integrantes da organização criminosa com informações privilegiadas e intervenção em causas perante outros Juízos”. Isto porque, em um dos episódios, um dos sócios teria solicitado ao juiz que olhasse um dos processos no qual era citado, o que teria sido feito. Depois, o magistrado teria dito que, se fosse o homem, “já teria deixado o Brasil ‘ontem'”.
Continua depois da publicidade
A defesa alega no processo que os medicamentos eram para uso pessoal do magistrado. Porém, o MP diz na ação que, durante o período, o magistrado teria adquirido 249.254 compridos, o que daria em torno de 101 comprimidos por dia.
“Desnecessário se consultar a literatura médica para se concluir ser humanamente impossível uma pessoa ingerir tal quantidade de comprimidos por dia ou neste período, sem sofrer algum efeito colateral, muito provavelmente uma overdose que ocasionaria a sua morte”, diz um trecho do processo.
Tiago Fachin foi preso pelo MPSC na terça (23) em Joinville. Com ele foram encontradas 27 cartelas de comprimido. Ele chegou a ser detido, mas foi liberado após audiência de custódia, com o uso de tornozeleira eletrônica. O magistrado também ficará afastado da função e das demais pessoas investigadas no caso.
Procurado pela reportagem, o advogado Renato Boabaid informou que, como o processo segue em sigilo nível máximo, “não irá se manifestar no momento”.
Continua depois da publicidade
Leia também:
Quem é o desembargador que autorizou a operação que prendeu juiz em SC
Juiz preso em investigação de tráfico de medicamentos em SC é solto