O juiz Baltasar Garzón e o jornalista Vicente Romero analisam a violência exercida pelo poder, com especial atenção aos crimes cometidos pela ditadura argentina (1976-1983), no livro-DVD El alma de los verdugos (“A alma dos carrascos”, em tradução livre), lançado nesta quinta-feira. A obra, com 600 páginas de texto e quase duas horas de vídeo, é uma iniciativa do magistrado da Audiência Nacional.
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O livro reúne depoimentos de muitas vítimas das ditaduras de Argentina e Chile e de vários de seus torturadores que, em alguns casos, ainda são verdadeiros “vencedores sociais”, como lembrou Romero. O Prêmio Nobel de Literatura José Saramago escreve no prólogo:
– Usando sua vontade e liberdade, os carrascos argentinos realizaram seu infame trabalho. Quiseram fazê-lo e fizeram-no. Nenhum perdão é possível. Nenhuma reconciliação nacional ou particular.
O jornalista da Televisión Española (TVE) ressaltou que o que aconteceu nesses países latino-americanos foi acompanhado de certas circunstâncias, como a passividade de boa parte da opinião pública e a colaboração das grandes empresas, que estão se repetindo hoje em outros lugares do mundo.
– O que é narrado faz parte do presente. Em outras instâncias, em outras escalas, mas é o mesmo – disse Romero, referindo-se a Guantánamo, Iraque e Afeganistão, e adiantando que a situação nesses lugares será analisada na segunda parte da obra, que será acompanhada de outras duas horas de material audiovisual.
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– Quando os limites são ultrapassados, quando o poder atua por vingança, se produzem más conseqüências – afirmou o juiz.
Romero aludiu ao caso espanhol e à repressão gerada pelo franquismo após a guerra civil e disse que não entende a oposição à chamada Lei da Memória Histórica:
– Se na Argentina ainda se nota a ausência dos desaparecidos, aqui ainda gritam das valas esperando que os desenterrem.