Um juiz decretou três meses de prisão preventiva para o ex-presidente guatemalteco Otto Pérez, ao abrir o processo penal por fraude fiscal que provocou sua renúncia em 2 de setembro, após semanas de intensos protestos nas ruas.

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O juiz Miguel Angel Gálvez, titular do Juizado de Maior Risco B, encarregado do processo, determinou que Pérez seja processado pelos crimes de associação ilícita, fraude alfandegária e corrupção passiva.

General da reserva, Pérez, de 64 anos, disse após a audiência judicial que se sente frustrado e que não compreendeu a decisão do juiz de abrir o processo contra ele “sem ter nenhuma prova”.

Gálvez anunciou sua decisão após uma extensa apresentação dos argumentos recebidos da promotoria e de uma comissão da ONU contra a impunidade (CICIG), que a seu critério vinculam Pérez a uma rede que cobrava propina para permitir a sonegação de impostos alfandegários.

Com isto, Pérez deverá permanecer recluso no quartel militar Matamoros, no centro da capital.

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O ex-chefe de Estado permanece no recinto militar desde a sexta-feira, quando foi sentenciado à prisão provisória por risco de fuga.

A promotoria dispõe de três meses para investigar e fundamentar a acusação e levar o ex-presidente a um julgamento oral e público. Para tal, o juiz programou uma audiência em 21 de dezembro.

Gálvez explicou haver “motivos racionais e suficientes para acreditar que o senhor otto Pérez cometeu os crimes apontados pelo Ministério Público”.

Além disso, determinou a prisão preventiva porque “existe risco de obstrução para a averiguação da verdade”.

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Gálvez assegurou que a intenção da rede criminosa era tomar o controle de todas as alfândegas guatemaltecas por meio da Superintendência de Administração Tributária (SAT), entidade encarregada da arrecadação de tributos, para alterar as declarações e obter um percentual da arrecadação.

O Ministério Público e a CICIG revelaram a existência desta rede em 16 de abril, o que provocou a indignação da população, que desde então foi às ruas protestar semanalmente.

A ex-vice-presidente Roxana Baldetti também está em prisão preventiva, acusada de comandar a rede criminosa ao lado de Pérez.

Pérez ataca a CICIG

Momentos após ouvir a decisão do juiz Gálvez, o ex-presidente insistiu em sua inocência e atacou a CICIG, uma entidade vinculada à ONU, criada para ajudar a fortalecer a justiça na Guatemala.

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“Não entendo porque estou ligado ao processo e em prisão preventiva, não entendo porque não houve um argumento sólido que o dissesse”, declarou a jornalistas na sala de audiências do tribunal.

“Sinto-me frustrado em ver como o Ministério Público responde à CICG e como o juiz responde ao que o Ministério Público e a CICG lhe dizem”, acrescentou.

Ele acusou a comissão da ONU de pressionar a justiça guatemalteca para denunciá-lo pela rede de corrupção.

Considerou, ainda, que esta entidade “tem apoios e responde a outros interesses, inclusive internacionais, mas não aos interesses nacionais. Nós queremos ver que os processos se deem como devem ser, que haja juízes independentes, que haja cortes independentes”.

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Ainda assim, Pérez se disse tranquilo por estar certo “de não ter participado de qualquer rede criminosa (…), vai ficar provado que não tenho absolutamente nada a ver com isto”.

A audiência foi celebrada dois dias depois de os guatemaltecos irem às urnas para eleger um presidente, um vice-presidente, 338 prefeitos, 158 deputados e 20 deputados ao Parlamento Centro-americano.

No primeiro turno das eleições, o comediante Jimmy Morales venceu com 23,86% dos votos, enquanto a ex-primeira-dama Sandra Torres (19,73%) e o magnata Manuel Baldizón (19,63%) brigam pelo segundo lugar após a apuração de 98,55% das urnas.

Os guatemaltecos terão que votar em 25 de outubro para eleger o novo governante entre os dois candidatos mais votados.

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* AFP