Um dia após a divulgação de denúncias de tortura contra presos da Penitenciária de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, a corregedoria do Tribunal de Justiça da unidade fez nesta quinta-feira vistoria na prisão. Esta é a primeira etapa da investigação interna que apura as denúncias.

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O magistrado assistiu à imagens do sistema de segurança que revelam, “em parte”, a contenção do detento William Pereira, na terça-feira, o que teria provocado o “princípio” de motim na quarta-feira. O juiz corregedor da unidade e da Vara Regional de Execuções Penais de São José, Humberto Goulart da Silveira, assistiu à imagens do sistema de segurança que revelam, “em parte”, a contenção do detento William Pereira, na terça-feira, o que teria provocado o “princípio” de motim naquele dia.

Acompanhou a vistoria a advogada de alguns detentos, entre eles, William Pereira, o homem que teria sido visto coberto de sangue por familiares de presos na terça-feira.

– As imagens aparentemente revelam que William tentou tirar a arma do agente. William narrou ter sido agredido. Ele levou três tiros de bala de borracha e estava com a perna engessada. Só posso fazer juízo definitivo sobre se os ferimentos nele foram ocasionados antes ou depois da contenção depois que receber o laudo de lesão corporal – observou Silveira, durante coletiva nesta quinta.

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O clima continuava tenso nesta quinta, na maior unidade prisional de Santa Catarina, onde estão lideranças da facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC). O juiz e a advogada foram acompanhados da PM. Conforme o magistrado, as visitas de familiares e advogados de presos foram suspensas e deverão retornar nesta sexta-feira.

Silveira frisou que o diretor da unidade, Carlos Alves, mesmo sem ordem judicial, encaminhou William para o exame. O magistrado destacou a postura do diretor de não negar uso de arma não letal durante a contenção.

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Além de William, o juiz corregedor conversou com um suspeito de ter sido vítima de tortura.

– Não vi lesões nele. Mas podem ocorrer agressões sem que lesões fiquem aparentes. Vamos aguardar o laudo – observou Silveira.

Seis detentos ouvidos pelo magistrado, por sugestão da advogada de William, não tem registro de agressão contra eles.

Outros detentos foram escolhidos pela administração da unidade para serem ouvidos na vistoria. A maioria estava lesionado por arma não letal, resultado da contenção na cadeia, na quarta-feira.

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Silveira disse que não verificou sinais aparentes de tortura, mas reconheceu que há como fazer tortura sem deixar marcas. Ele vai aguardar os laudos para se manifestar novamente.

Confira o vídeo do protesto dos familiares dos detentos:

Famílias fazem manifestações em frente ao Fórum e à Penitenciária

O som do maior “apitaço” de familiares de presos de São Pedro de Alcântara começou a ser ouvido nesta quinta, às 15h30min por quem estava em frente à unidade. Em seguida, pela estrada de terra que leva a penitenciária, começaram a chegar 75 mães, esposas e tias, além de filhos de detentos carregando cartazes e faixas.

Entre apitos e buzinas, as famílias gritavam em coro: “Ô, diretor, você não me engana. Você tortura quem está em cana”.

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Parentes fizeram manifestações em frente ao Fórum da Capital e à penitenciária, contra torturas que eles continuam afirmando existir.

Na saída da vistoria, o magistrado Humberto Silveira não desceu da viatura da PM para dar a coletiva marcada com a imprensa. Preferiu falar em seu gabinete.

– Claro que existe um clima tenso em São Pedro e muito medo por parte das famílias. Mas elas podem se acalmar, a situação está se normalizando. E nós vamos continuar a investigação interna das denúncias – concluiu o magistrado.

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