Quem viu os primeiros traços de Juarez Machado, produzidos no amarelado dos papéis de jornal dos anos 1940, pode ter imaginado que havia ali um talento diferente, mas nunca que, um dia, aqueles traços realmente estariam em publicações ou nas paredes das galerias de arte. Joinville ainda não chegara nem mesmo ao primeiro centenário quando viu nascer o primeiro grande artista em suas terras ao Norte de Santa Catarina, e não havia escolas ou mestres para ensinar ao jovem como desenvolver o potencial. Mesmo assim, antes ainda de chegar à adolescência, Juarez Machado já apresentava obras com um nível elevado de qualidade artística. Foi por isso que, aos 19 anos, deixou a cidade em pé dentro de um ônibus em direção a Curitiba para seguir seu destino: estudar artes e ganhar o mundo.
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Nos cinco anos em que passou como aluno da Escola de Música e Belas-artes do Paraná (Embap), Juarez precisou correr atrás para sobreviver: arrumou emprego na TV Paraná – onde chegou a ficar meses sem receber salário –, fazia ¿bicos¿ como designer gráfico de cartazes e até decoração para festas, tudo para dar conta de pagar a mensalidade da escola, os materiais de pintura e o aluguel do quarto em um pensionato. Ao mesmo tempo, era celebrado em coletivas de artistas: já no primeiro ano da faculdade, ficou com o segundo lugar no Salão dos Novos e recebeu uma menção honrosa no Salão de Belas-artes da Primavera.
— Minha primeira tela em uma exposição foi classificada como surrealista pelos curadores. Diziam ¿veja só, ele pintou pessoas andando de bicicletas e segurando guarda-chuvas, o que é impossível!¿ — recorda ele, aos risos, já que a tela mostrava uma cena comum para Joinville, então batizada como a Cidade das Bicicletas.
No ano seguinte, viria o prêmio máximo no Salão dos Novos e, no ano de formatura, a primeira exposição individual, na Galeria Cocaco. Não demorou para que o nome Juarez Machado estivesse na lista da Bienal de São Paulo e o artista, vivendo no Rio de Janeiro, em plena efervescência cultural do fim dos anos 1960.
Entre seus amigos e colegas de trabalho na época estavam Ary Fontoura, Juca Chaves, Ziraldo e Millôr Fernandes. Em seu currículo, também há passagens pelo jornal O Globo e a TV Globo, onde participou da criação do Fantástico, em 1973. Ali ele viveria uma das experiência mais marcantes da carreira, que os joinvilenses lembram com admiração até hoje: durante cinco anos, Juarez entrava na TV nas noites de domingo para um pequeno quadro de humor. Como um mímico, ele vivia situações comuns, como andar de bicicleta ou de trem, que ganhavam ares de absurdo enquanto ele interagia com seus próprios desenhos.
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Quando a maturidade chegou, Juarez já tinha uma identidade artística passível de ser reconhecida em qualquer obra que produzisse: de suas coleções de telas que contam histórias de festas e romances a esculturas autobiográficas e instalações cheias de humor. Aliás, tudo o que o artista faz precisa ter graça – é sua grande lei pessoal para continuar produzindo. Há cerca de 30 anos, o Brasil deixou de ser sua casa para que ela fosse o mundo. Ele reside em Paris, mas também tem ateliês em casas e apartamentos que mantêm em outras cidades. Mas, desde 2014, Joinville tornou-se seu principal destino: na antiga casa da família Machado, ele abriu o Instituto Internacional Juarez Machado, onde promove exposições de artistas consagrados mundialmente e onde pretende realizar atividades que provoquem o crescimento das artes. É o legado de Juarez para Joinville e sua forma de acertar contas com o passado, garantindo que outros jovens não precisem ir embora da cidade para alcançar seus sonhos.