Juarez Machado nasceu há exatos 80 anos, em Joinville, em um dia 16 de março. Morador do bairro Bucarein na infância, do bairro América na juventude e do mundo inteiro depois de adulto, ele tornou-se o artista joinvilense a alcançar o maior sucesso nacional e internacional da história da cidade.
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Conheça a trajetória de Juarez Machado em oito décadas de vida:
Nasceu artista e foi ser Juarez Machado
Juarez sempre foi uma criança diferente. Aos três anos, ele fez o primeiro desenho “registrado”: um tanque de guerra desenhado na página de um jornal que, de tão bem feito para um guri tão pequeno, fez com que a mãe dele, Leonora Busch, guardasse com carinho. Passados 77 anos, ele faz parte do acervo do artista.

A tia paterna, Verônica Machado, em entrevista ao jornal A Notícia em 2011, contou que Juarez deixava a mãe enlouquecida com suas invenções. Uma delas foi recolher esqueletos
e outros restos de animais mortos que encontrava pelas ruas do Bucarein e do Centro a caminho do Colégio Conselheiro Mafra e pendurá-los nas paredes do quarto, como se fosse uma exposição, quando tinha sete anos.
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— Até pescoço de galinha e cabeça de morcego tinha. Eu falei pra mãe dele “quem sabe ele vira cientista?”— recordou Verônica.
Na escola, não era o favorito dos professores. Em especial quando foi fazer o ginásio no tradicional Colégio Bom Jesus, onde os professores se enfureciam com aquele estudante que parava de prestar atenção nas lições para desenhar. Ele bem que tentava colar de um colega de classe chamado Udo Döhler — história que Juarez adorava contar quando o antigo colega virou prefeito de Joinville —, mas nem sempre o plano dava certo.
Jovem conquistador, mas sem salário
A beleza sempre fez parte da vida de Juarez Machado em suas ilustrações e telas. Ele, inclusive, conquistou o primeiro emprego ainda na adolescência como ilustrador do Laboratório Catarinense. Já quando olhava no espelho, não era o perfil semelhante aos de Marlon Brando ou James Dean que aparecia, mas ele sabia bem como virar o jogo.
— Ele era baixo e narigudo, mas sempre jogou bem com essa desvantagem. Ninguém soube tirar partido de seu vestir como Juarez. Ele sempre trajava “o não esperado”. Suspensórios, cartolas, lenços e bengalas sempre fizeram parte de seu guarda-roupa usual. Era charmoso, estiloso ao extremo. Não havia menina bonita e cobiçada que por ele não se apaixonasse — revelou a prima Yara Busch, em entrevista ao AN.
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Aos 19 anos, assim que concluiu o serviço militar, subiu em um ônibus e foi estudar Belas Artes em Curitiba. Em 1962, ainda durante a faculdade, arrumou emprego como cenografista na TV Paraná e virou amigo de Ary Fontoura, ator que ficaria famoso por seus trabalhos em filmes e novelas na Rede Globo. Mas trabalhar na TV não tinha nenhum glamour: ele chegou a passar meses sem receber salário e fazia bicos como designer gráfico e decorador de festas para pagar as contas.
Mímico de domingo
Já formado e vivendo no Rio de Janeiro, Juarez Machado começou a circular nas mesmas rodas que os grandes ilustradores e escritores de seu tempo: fez amizade com Ziraldo, Jaguar, Millôr Fernandes e outros artistas que trabalhavam nos principais jornais. Colaborou com “O Pasquim”, trabalhou no Jornal do Brasil e começou a tornar-se nome conhecido nas artes.
Juarez Machado nasceu entre fevereiro e abril, há mais de 26 e há menos de 28 anos, num Estado que fica entre o Paraná e o Rio Grande, mas viveu a maior parte de sua vida naquele outro que separa Santa Catarina de São Paulo. Daí os distúrbios. Como todos nós, começou por baixo, nascendo no Brasil, mas quando for rico a primeira coisa que vai ser é estrangeiro. […] Depois Juarez se dedicou sozinho ao entalhe, ao talhe e ao detalhe, tendo chegado ao achincalhe. (Millôr Fernandes, 1969)
Em 1973, Juarez colaborou na criação do Fantástico, o programa dominical que ainda é referência nas noites de domingo dos brasileiros. Ele trabalhava como cenógrafo da Globo e assinava a coluna de humor Nonsense, no Jornal do Brasil, e, inspirado por aquele desenho de humor, criou um quadro para o programa. Ele interagia com os próprios desenhos, com o rosto pintado de branco e vestindo uma fantasia, em silêncio e sozinho.
O quadro de mímico fez enorme sucesso e durou por cinco anos. Ele garantiu que o nome Juarez Machado ganhasse fama em todo o país.
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Livro livre
Além de pintor, escultor, ilustrador, cenógrafo e, claro, mímico, Juarez Machado também é escritor. Ele é, aliás, precursor de um movimento no Brasil: o do livro-imagem. “Ida e Volta”, publicado em 1975, fez história como a primeira obra brasileira a ter uma narrativa formada apenas por ilustrações. Depois, ele ainda lançou “Domingo de Manhã” e “Saída”, no mesmo estilo.

Na França com Amélie Poulain
Juarez nunca mais teve Joinville como residência oficial, mas nunca deixou de ter para onde voltar: fosse na casa da mãe ou no apartamento localizado no condomínio que leva seu nome, há sempre um endereço onde ele pode abrigar-se e, o mais importante, montar eu ateliê. Mas, depois de viver por muito anos no Rio de Janeiro, mudou para Londres e, por fim, encontrou seu lugar no mundo em Paris.
Ele tem um apartamento em Montmartre, local que tornou-se famoso por ser o “bairro dos artistas”: Van Gogh, Cézanne, Monet e outros gênios da pintura o tinham como seu lugar preferido em Paris. É também o local onde se passa boa parte do filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” que, aliás, tem participação do artista joinvilense.

O cineasta Jean-Pierre Jeunet, que dirigiu o popular filme francês, foi a uma exposição de Juarez Machado em Paris e viu ali as cores que deveria usar na obra. Ele fotografou quadros, livros e outros trabalhos de Juarez para mostrar à equipe de filmagem. Há, inclusive, dois quadros de Juarez Machado em cena, ao lado da cama de Amélie. Depois, ele ainda contribuiu com Jean-Pierre Jeunet em “Eterno Amor”, filme que também era protagonizado pela “Amélie Poulain” Audrey Tatou.
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Legado
Em 2014, Juarez cumpriu uma promessa que fez a si mesmo aos 19 anos: um dia, voltaria a Joinville e construiria um centro de referência para artistas na cidade. O lugar foi construído no terreno da antiga casa dos pais dele com o nome Instituto Internacional Juarez Machado. Além da exposição das próprias obras, em uma das galerias, o instituto promove exposições de artistas locais, nacionais e internacionais.
