Na televisão fininha instalada na parede, o cliente tem informações de novos cursos de negócios e as cotações na bolsa de valores. Em frente ao aparelho, quatro cadeiras fabricadas em 1920 e 1960, pesando cerca de 90 quilos cada e cuidadosamente restauradas que compõem o ambiente de trabalho da Barbearia Tradicional, de Florianópolis.

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Os sócios do estabelecimento, ambos com 25 anos de idade, investiram no antigo ofício há oito meses, mas, de histórico, ficaram apenas algumas decorações garimpadas em São Paulo. Sem dar um “tiro no escuro”, os jovens empresários fizeram uma pesquisa de mercado por três anos antes de se arriscarem na área em que a clientela é fiel aos barbeiros que atuam no mercado.

Ainda na faculdade, quando começaram a pesquisa sobre a tendência de mercado e como funcionavam as barbearias nas cidades de Curitiba, São Paulo e Nova York, visitadas in loco, Rodrigo Novaes Gonçalves e Thiago Furtado perceberam que todos os profissionais antigos iam muito bem nos negócios.

Já em Florianópolis, os sócios tiveram a ajuda extra de Arnoldo Gonçalves Filho, pai de Rodrigo e barbeiro há 33 anos, hoje funcionário da Barbearia Tradicional.

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Homens querem espaço para cuidar da beleza

– Cuidar do homem não é moda, é tradição – acredita Thiago Furtado, que é o criador do design gráfico da marca.

O empresário conta que há dois públicos-alvo na barbearia. O primeiro é o do jovem empresário, a exemplo dos próprios sócios, que se enquadra na faixa etária dos 25 aos 45 anos. São clientes que, em geral, distraem-se na mesa de sinuca que fica no segundo andar do estabelecimento – brincadeira que pode ser praticada sem custos adicionais, só por diversão.

O segundo público-alvo é formado os “profissionais de carreira feita”, que prezam pelo serviço de qualidade e gostam do visual tradicional da barbearia, com móveis escuros e espaços como charutaria. Além do corte de cabelo com tesoura e aparar a barba, os clientes contam com três salas de serviços estéticos, alugadas por profissionais femininas.

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– Essa foi uma das exigências: os homens gostam de fazer o cabelo com barbeiro, mas os serviços estéticos com mulheres. A podologia (cuidados com os pés) é o segundo serviço mais pedido aqui – diz Furtado, que estima atender cerca de 35 clientes por dia.

Com um investimento inicial de R$ 450 mil, o retorno financeiro é esperado pelos empresários no prazo de até cinco anos.

Inspiração amadurecida dentro de casa

A Carlos Pinto Alfaiataria existe há 50 anos em Florianópolis. Deu tão certo que a antiga loja, situada na Avenida Osmar Cunha, no Centro da Capital, continua lá, abrigando a oficina e as costureiras do estabelecimento. Mas um novo conceito de negócio começou a surgir desde que o filho do alfaiate Carlos Pinto, o administrador Eduardo Pinto da Luz, entrou na empresa como sócio do pai, há seis anos.

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Convidado pelos sócios da Barbearia Tradicional pela afinidade com que os serviços foram passados para a nova geração familiar, Eduardo abriu uma loja-conceito e modernizou a oferta de peças sob medida para o público consumidor. O resultado foi um crescimento de cerca de 30% no número de clientes que procuram a alfaiataria para comprar uma roupa exclusiva.

– Quando vim trabalhar com meu pai, observei o potencial do negócio e a sua expansão. Como é roupa sob medida, artesanal, existia uma produção limitada. Conseguíamos fazer seis peças por semana. Com o mundo moderno, o cliente quer vestir a peça em um dia e levá-la no outro – afirma.

A solução encontrada por Eduardo foi começar a produzir camisas, já que os clientes sempre reclamavam da dificuldade de encontrá-las no varejo, e lançar uma linha de ternos da marca em janeiro deste ano, a Personalizatto, que é fabricada em indústria, mas utiliza a modelagem já conhecida pelos clientes da Carlos Pinto.

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Em vez de 40 dias para a peça ficar pronta, como costumava acontecer, o terno agora é finalizado em 20 dias, sem deixar a exclusividade de lado. Formado em Administração, com especialização em Comércio Exterior, Eduardo virou sócio do pai só aos 32 anos.

– A família veio dessa área, do ramo têxtil, então, sempre gostei bastante desse lado. Está no sangue – diz.

Junto com a Barbearia Tradicional, a Carlos Pinto Alfaiataria está há oito meses no novo endereço. Eduardo conta que investiu entre R$ 80 mil e R$ 100 mil no local, e que o retorno obtido até agora está dentro do planejado.

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Os prós e contras

– Existem desafios e benefícios em se ter uma empresa familiar.

– Para Fábio Amaral Vicentini, gestor da Dux Consultoria Empresarial, o empresário mais velho tende a manter as coisas como elas eram, enquanto a nova geração quer mudanças.

– A principal vantagem em se ter um negócio familiar é o comprometimento supostamente maior do funcionário.

– Se existem pessoas de confiança trabalhando na empresa, a chance de ela vestir a camisa e aceitar os desafios são bem maiores.

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