Jovens nicaraguenses denunciaram nesta sexta-feira (22) espancamentos e abusos de forças paramilitares ao serem libertados, após sua detenção na onda de protestos contra o governo de Daniel Ortega.
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A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) denunciou que a “ação repressiva do estado” na Nicarágua deixou 212 mortos em dois meses, em um relatório que apresentou ante o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington, no qual mencionou graves violações de direitos humanos por parte do governo.
Entre lágrimas e abraços de seus familiares, 15 jovens foram levados pela polícia para a catedral de Manágua e outros 11 ficaram livres em Masaya, 30 km ao sul da capital, um deles desde a noite de quinta-feira. Dois deles eram menores de idade.
Bayron Hernández, de 16 anos, relatou que foi detido por paramilitares encapuzados. “Tentei correr mas jogaram uma rajada e caí. Me espancaram e abriram minha cabeça com o (fuzil) AK”, descreveu à AFP na igreja San Miguel, em Masaya, onde foram entregues a um grupo de direitos humanos.
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Evert Padilla, que esteve detido na prisão de El Chipote, em Manágua, contou que tinha participado dos protestos mas foi preso em sua casa. “Romperam o cadeado da porta, levaram minha coisas, me deitaram no chão, me seguraram à força”, disse o jovem, de 23 anos, na catedral de Manágua.
“O Estado da Nicarágua violou os direitos à vida, integridade pessoal, saúde, liberdade pessoal, reunião, liberdade de expressão e acesso à justiça”, afirma o relatório da CIDH.
Ao negar essas acusações, o chanceler da Nicarágua, Denis Moncada, anunciou na reunião que seu governo “rejeitava integralmente o relatório apresentado pela CIDH por considerá-lo subjetivo, tendencioso, preconceituoso e notoriamente parcial”.
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– “Continuamos com medo” –
As libertações foram fruto de uma reunião na quinta-feira entre uma comitiva de bispos católicos e o subdiretor da Polícia, Ramón Avellán, que se comprometeu a cessar as perseguições em Masaya.
Essa cidade de artesãos e agricultores foi a mais atingida pela repressão de policiais e paramilitares, depois de se declarar em rebeldia na segunda-feira. Nesta sexta-feira permanecia em calma relativa.
“Está tranquilo, mas continuamos com medo de sair porque a qualquer momento isto volta a ficar tumultuado”, disse Daysi Mercado, uma costureira que perdeu seu emprego devido à crise.
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Caminhonetes com tropas de choque com balaclavas e fuzis AK percorriam as ruas de Masaya, onde poucos moradores se atreviam a colocar suas tradicionais barracas de comida nas calçadas.
Na última semana aumentaram as incursões de policiais e civis encapuzados e armados em cidades como Estelí, Granada e Carazo.
Encapuzados fortemente armados, que apoiam o governo, custodiam várias vias de acesso às cidades. Nos povoados, barricadas de pedras são guardadas por moradores armados com morteiros artesanais.
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O país da América Central mergulhou numa espiral de violência por protestos contra o governo que começaram em 18 de abril.
Com o agravamento da crise, o governo de Daniel Ortega e a oposição tentam um diálogo político para encontrar uma solução pacífica.
Ex-guerrilheiro da revolução sandinista, Ortega, cujo terceiro mandato presidencial consecutivo termina em 2021, é acusado de nepotismo e de instaurar, com sua esposa e vice-presidente Rosario Murillo, um governo autocrático e corrupto.
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As manifestações contra o governo começaram contra uma reforma ao sistema de previdência social, mas se estenderam para pedir justiça pelas mortes de manifestantes e a saída do poder de Ortega.
O governo de Ortega também enfrenta uma crescente pressão internacional. Vários governos, incluindo o dos Estados Unidos, pediram o fim da repressão durante a sessão na OEA.
A Anistia Internacional e a Human Rights Watch advertiram que o governo não pode estar cometendo “sérias violações de direitos humanos e crimes” enquanto diz dialogar.
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* AFP