Liberdade, privacidade, responsabilidade. A rima não é proposital, mas é esse o conjunto de palavras que melhor exemplifica o que acontece na vida de quem decide morar sozinho.
Continua depois da publicidade
Especialmente no caso de Jefferson Michels, Elaine da Veiga e Eloisa Eckhoff – três jovens que optaram por conquistar o próprio espaço ainda que não necessitassem, realmente, dessa mudança.
Eles vivem em Joinville, assim como os pais, cultivam uma boa relação familiar e contavam com os mimos e mordomias de quem não precisa se preocupar com a limpeza da casa, a compra de alimentos ou as contas a pagar.
A autonomia de comandar o próprio lar, no entanto, foi um atrativo muito maior do que qualquer dificuldade que poderiam vir a enfrentar. E eles garantem que vale a pena.
Continua depois da publicidade
O aconchego do próprio lar
O ano era 2010. Elaine da Veiga estava terminando a faculdade de Direito e parecia ter parte do seu futuro bem definido. Com apartamento comprado, iria se casar em maio. Mas o noivado foi desmanchado cerca de um mês e meio antes da data. O que poderia ser um drama virou impulso para que a jovem, então com 23 anos, realizasse um sonho: morar sozinha.
O ex-casal vendeu o local onde iriam viver juntos e, com a grana que havia investido, Elaine fez um acordo com os pais e ficou com um apartamento que eles possuíam na zona Norte de Joinville. Em novembro daquele ano, após contratar os serviços de um arquiteto para decorar o imóvel, fez a mudança.
– Às vezes, acontecem coisas imprevisíveis para enxergarmos que há outras possibilidades. Se eu não tivesse passado pelo término, poderia nunca ter realizado meu sonho de morar completamente sozinha. E isso acabou sendo a maior realização da minha vida.
Continua depois da publicidade
Com a rotina corrida, a jovem nem tem tempo para se sentir solitária. Como trabalha com os pais e os irmãos e também os vê nos fins de semana, a verdade é que mesmo após três anos ainda não teve espaço para saudades. Isso certamente facilitou na adaptação, e a distância, mesmo que curta, ajudou a estreitar os laços entre Elaine e os familiares.
– Você se sente adulta quando sai de casa. Acontecia de eu chegar com sacolas de compras e minha mãe reclamar: “Tá gastando todo o teu dinheiro em roupas, filha”. Ou então rolavam comentários do tipo: “Vai sair de novo? E o trabalho amanhã?”. Não só estou menos estressada morando sozinha, como respeito mais meus pais.
Elaine garante que as vantagens são muitas. Por ser bastante organizada, sabe que se algo está bagunçado é porque ela deixou, e se está arrumado ninguém vai mexer. Isso, no mínimo, evita brigas. Também não precisa mais dividir quarto, banheiro, o controle remoto da TV. E tem o benefício de poder “fugir” para seu lar depois de um longo dia de convívio com as mesmas pessoas. Mas é claro que nem tudo é incrível.
Continua depois da publicidade
– Preciso estar muito atenta. Se esquecer sabonete ou toalha, por exemplo, não terei quem me socorra no meio do banho. Pior do que isso é acordar doente e precisar de remédios ou comida e ter que providenciar isso sem ajuda.
Morar sozinho também requer responsabilidade. E vai desde os detalhes – como desligar luz e gás ao sair – até as tarefas mais trabalhosas – como cuidar da limpeza e pagar as contas em dia. Tudo isso na balança, no entanto, geralmente resulta em amadurecimento e crescimento pessoal.
– É um divisor de águas. Existem a Elaine antes de morar sozinha e a Elaine de depois.
Descobertas e aprendizados
Eloisa Eckhoff ainda tem um ano pela frente antes de se mudar para o apartamento que comprou com o namorado, mas já sente saudades de morar sozinha. Para se adaptar à ideia de dividir a casa e a vida com outra pessoa, o casal tem feito o que ela descontraidamente chama de intensivão.
Continua depois da publicidade
– Ele dorme aqui várias vezes na semana, então nem me sinto mais sozinha, de fato. Às vezes, eu até brinco e o mando embora quando inventa de assistir futebol na TV ou passa muitos dias seguidos comigo. Não vou poder fazer isso quando morarmos juntos – conta, aos risos.
A empreitada de Eloisa começou em 2010, aos 25 anos, quando a irmã ficou grávida e a mãe foi morar com ela em outra cidade. A jovem tinha a opção de viver com o pai, que ainda hoje está em Joinville, mas preferiu se tornar independente para aprender a se virar por conta própria.
A transição foi complicada, a começar pela decoração da casa. O fogão e a geladeira, por exemplo, ela ganhou. Mas demorou um tempo até que conseguisse deixar tudo do seu jeito. Hoje, as paredes da sala têm detalhes que chamam a atenção na primeira olhada, como um mosaico de espelhos (daqueles comprados em lojas de R$ 1,99) e quadrinhos que pintou quando tinha cinco anos de idade.
Continua depois da publicidade
Depois de alguns anos cuidando de si, Eloisa se dá a alguns luxos: ela comprou as máquinas de lavar roupa, louça e paga uma faxineira duas vezes por mês – tudo para minimizar a parte que menos gosta de morar sozinha: ser responsável pela limpeza.
Como trabalha desde nova, ela diz que era organizada, mas confessa que às vezes se perde nas contas. Já ficou sem luz por falta de pagamento pelo menos duas vezes. Para evitar o perrengue, mantém uma planilha de despesas fixas, variáveis e investimentos – que ela consulta a cada dezena de dias, porque também não quer se prender muito a isso.
Para lhe fazer companhia, Eloisa vive com o furão Tufo. O animal consegue suprir sua carência de forma que ela não se torne pegajosa com as pessoas à sua volta, garante. Quando se mudou, a jovem sempre tinha companhia aos fins de semana, por isso as segundas-feiras eram dias terríveis. Quem é muito mimado ou apegado às pessoas sofre mais ao morar sozinho, diz Eloisa. Mas a experiência é rica em autoconhecimento.
Continua depois da publicidade
– Você vai se descobrindo. Noto que eu absorvia muita coisa da minha família, dos hábitos dela. Passei a saber quais as minhas necessidades, minhas preferências. Faço as coisas do jeito que eu quero, quando desejo, não preciso dividir a tomada de decisões com ninguém. E até aprendi a gostar do silêncio das segundas-feiras.
A aventura de morar só
No dia em que pegou a chave do seu novo lar na imobiliária, Jefferson Michels, 19 anos, foi ao mercado, comprou balde, rodo, vassoura, panos, produtos de limpeza e iniciou imediatamente uma faxina. Três horas depois, exausto, deitou no chão da sala e adormeceu. Quatro meses se passaram, o apartamento no Centro de Joinville continua com pouca mobília, mas a sensação que o estudante de publicidade e propaganda tem é ainda aquela do primeiro dia: isto tudo é meu.
A ideia de sair da casa dos pais surgiu assim que Jefferson iniciou a graduação, em 2011, e as finanças são apontadas pelo jovem como sua principal dificuldade nesta nova fase da vida. Para reduzir os gastos, Jefferson precisou diminuir as saídas para cinema, teatro, balada e aquele lanchinho feito fora de casa.
Continua depois da publicidade
Embora tenha menos dinheiro para sair, morar sozinho parece o oposto de ficar solitário. Seu apartamento está sempre cheio e virou um ponto de encontro para os amigos – o que pode ser tanto um pró quanto um contra.
– Não que eu não tivesse privacidade por morar com minha família, mas aqui é diferente. Não preciso dar satisfações sobre o que faço, tenho liberdade para receber quem eu quiser. Apesar de que, às vezes, eu queria mesmo era ficar sozinho, sem o agito de vários amigos circulando pela casa.
O apê, aos poucos, foi ganhando a cara do estudante. Sem grana para comprar móveis, ele conta com a doação de amigos, familiares e até estranhos. Assim vieram o sofá, a TV, uma estante para guardar DVDs e a máquina de lavar roupas. Mas a principal fonte de decoração vem de um lugar que pode soar inusitado para muitos: o lixo.
Continua depois da publicidade
Descartados nas ruas, Jefferson recolheu três quadros, um carrinho de supermercado, um balcão que usa como bar e cartazes de salão de beleza que enfeitam a parede de um dos quartos. Esse garimpo sustentável lhe rendeu uma história curiosa, inclusive.
– Sou amigo da neta da artista plástica Eladir Skibinski. Certo dia, ela veio aqui, olhou para um quadro e achou parecido com as obras da avó. Demos uma olhada e descobrimos a assinatura de Eladir dentro da moldura.
O quarto que era de Jefferson na residência dos pais agora é da irmã dele. Ele procura visitá-los toda semana, mas diz que é estranho ir lá agora que suas coisas sumiram. É na “bagaça” – nome que deu ao seu apartamento – que se sente verdadeiramente em casa.
Continua depois da publicidade
Dica: empresas prestam serviços para quem mora sozinho e precisa de uma ajudinha com afazeres domésticos.
Socorro do Lar
O QUÊ: instalações elétricas; serviços hidráulicos; pequenos reparos; limpeza de caixa-d’água, caixa de gordura e jardim; instalação de prateleiras, cortinas, persianas, varais de teto e trincos; montagem e desmontagem de móveis.
INFORMAÇÕES: (47) 3454-8336 / 9933-7330 / www.maridodealugueljlle.com.br
Manutenção no Lar
O QUÊ: serviços hidráulicos e serviços elétricos
INFORMAÇÕES: (47) 9197-8456 / 9624-0711 / www.manutencaonolar.com.br