Era a chamada Semana Missionária, período de preparação que antecede a chegada do Papa Francisco ao Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude e que levou centenas de jovens a se espalhar pelo país. Só em Santa Catarina, cerca de 600 estrangeiros vieram e se debruçaram no trabalho voluntário em mais de 40 instituições sociais.

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Camille, Juan e Clarisse estavam entre eles. Eram do grupo que mais tempo ficou na Capital, recepcionado pelo Colégio Catarinense. O objetivo principal: passar uma semana atendendo às demandas da Orionópolis Catarinense, em São José, entidade que virou lar de 60 deficientes físicos e mentais abandonados pela família ou que sofreram maus-tratos. Nas horas vagas, passearam pela Capital, andaram de ônibus, fizeram churrasco e promoveram apresentações.

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Ao fim desses sete dias, o Diário Catarinense convidou Camille, Juan e Clarisse para relatar sua última semana. Queríamos saber que tipo de lições eles tiraram de lá antes do encontro com o Papa. As cartas, escritas a próprio punho, foram entregues no sábado, horas antes dos últimos momentos do grupo junto à Orionópolis.

Juan Ignacio Molina, estudante, 20 anos, Chile:

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“Viver esta experiência no trabalho com pessoas com necessidades especiais tem sido muito especial. Estas pessoas, marginalizadas pela sociedade, têm muito a ensinar e uma grande quantidade de alegria para repartir. Em primeiro lugar, esta experiência acabou me convidando a um grande desafio: poder “compartilhar a vida” (como diria o santo chileno São Hurtado) em outro idioma, com pessoas de grande coração que têm sofrido muito. Nestes dias também tenho percebido minhas próprias limitações e compreendido que todos somos, em certo aspecto, incapazes. Estes dias têm me feito pensar muito no valor da vida, em tudo o que temos que agradecer ao Senhor. Por último, quero mencionar a importância de lugares como a Orionópolis. Não é só um lindo lugar, mas um lugar onde a dedicação é o mais importante.”

Camille de Montigny, estudante, 22 anos, França:

“Basta passar algumas horas na Orionópolis, e junto das pessoas que vivem lá, para perceber que há mais alegria do que tristeza. Logo me peguei pensando como poderia fazer para melhorar a situação dessas pessoas. Mas então descobri que só o fato de estar aqui já é um exercício de melhora. Juntos, nós vimos que abraços, sorrisos e beijos têm força para quebrar diferenças e também as barreiras que existem entre nós, porque “só se vê claramente com o coração”. Eles sentem a nossa presença e nos recebem sempre com muita alegria. Quando cada um sorri, nós recebemos mais amor do que conseguimos dar.”

Clarisse Ramalalanirina, freira, 29 anos, Madagascar:

Há jovens do Brasil, do Chile e da França aqui e eu sou de Madagascar. Estamos vivendo a pré-Jornada em uma linda Ilha, que nos recebeu muito bem. No Evangelho, Jesus diz: “eu vim para servir”. Eu vim à Jornada Mundial da Juventude com esse espírito e sinto que estou recebendo em troca duas vezes mais dos outros do que tenho me dedicado. Em Florianópolis, em particular, aprendi a doar o melhor de mim, apesar das barreiras dos idiomas. Sou a única que não fala inglês, nem português, nem espanhol – estou limitada à minha língua mãe, malgaxe, ou ao francês. Mas me comunico de outras formas, em uma língua universal. Como, por exemplo, distribuindo sorrisos. Essa experiência com certeza me ajudou a ter maior confiança em Deus. Me sinto mais confiante para servir sem restrições, para “ir e fazer discípulos entre todas as nações”, lema da JMJ.

:: Confira o relato da repórter que acompanhou os voluntários:

Fui duas vezes à Orionópolis para vê-los nesta semana. Na primeira, cheguei de ônibus junto com eles e compartilhei a sensação de curiosidade.

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A instituição os esperava, com seus enfermeiros, assistentes sociais, psicólogas e, principalmente, os moradores. Na segunda visita, percebi as diferenças logo do portão de entrada.

De longe, avistei jovens roçando canteiros de grama crescida, enquanto outros reforçavam a pintura desgastada. Sozinho, outro jovem identificava verduras da horta com plaquinhas. Lá dentro, uma estudante chilena de enfermagem recebia lições práticas de futuros colegas de profissão, enquanto segurava carinhosamente a mão de um paciente sem forças. Era a pré-jornada na sua essência.