Welington de Melo, carioca de 23 anos, aguardava sua vez em um banco de madeira sem encosto, sentado ao lado dos outros quatro escolhidos para confidenciar seus pecados ao Papa. A 10 metros dali, no canto oposto da tenda, Francisco ergueu a mão direita em frente à testa, cumprimentando o quinteto, e se acomodou sorrindo no confessionário branco. Era tensa a espera de Welington – e piorou depois que o primeiro jovem dirigiu-se ao Pontífice.
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O cuiabano Marco Antonio Amorim, 21 anos, fez o trivial para qualquer católico: ajoelhou-se atrás da parede que separa o sacerdote do penitente, mas o Papa ergueu-se do outro lado, fez a volta na cabine e trouxe Marco Antonio para a sua frente. Não havia divisória alguma entre os dois: era mais uma das frequentes quebras de protocolo do Pontífice argentino.
– Meus joelhos começaram a tremer assistindo àquilo – recorda Welington.
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Os outros três que aguardavam no banco de madeira – o cearense Renan Sousa, 22 anos, a italiana Claudia Giampietro, 27 anos, e a venezuelana Estefani Lescano, 21 anos – também se agitaram com a proximidade do Santo Padre com o primeiro penitente. Todos ali sabiam havia três meses que o Papa os receberia em reservado. Foram avisados pela organização da Jornada Mundial da Juventude por telefone, após serem sorteados entre 300 mil inscritos no evento.
Mas os cinco ganharam o mesmo alerta: se contassem para alguém, para qualquer pessoa que fosse, seriam eliminados e perderiam a glória de se confessar com o sumo sacerdote.
– Não contei nem para a minha mãe, nem para o meu pai – garante Welington, filho de uma dona de casa e de um pedreiro de Campo Grande, o bairro mais populoso do Rio.
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Welington (E): “conselhos de valor indescritível”
Foto: Mauro Vieira, Agência RBS
No dia em que recebeu a ligação do padre Leonardo Lopes, membro do Comitê Organizador Local da Jornada, o rapaz soltou um berro na loja de materiais escolares onde trabalhava, foi cercado por colegas curiosos, mas pediu que, por favor, entendessem que a notícia era sensacional, mas impossível de revelar naquele momento. O padre explica o porquê do segredo tão inviolável:
– O sacramento da penitência é muito particular e sigiloso. Além disso, nós queríamos preservar a segurança desses jovens e evitar qualquer rivalidade com outros peregrinos.
Respeitando o rito secreto da confissão, nenhum dos cinco revelou quais pecados sussurraram ao Papa, nem informaram as penitências impostas pelo Pontífice. Mas Marco Antonio, o cuiabano, afirmou que a expiação “até que foi bem levezinha”. E Renan, o cearense, repetia o quanto era inabalável a atenção de Francisco durante os cinco minutos de tête-à-tête.
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Quando enfim Welington deixou o banco de madeira e dirigiu-se ao confessionário, o nervosismo estranhamente sumiu.
– Me senti à vontade demais. O Papa olhou nos meus olhos o tempo inteiro e me deu conselhos de valor indescritível – relembra o carioca, cuja mãe só soube do encontro uma hora mais tarde, assistindo a uma entrevista do filho na TV.