Horas antes do protesto, jovens com rostos cobertos, vestindo bermudão e portando mochilas nas costas encontraram-se na calçada de prédios ao redor da prefeitura de Porto Alegre. Ali, enquanto um cigarro de maconha e litros de vinho passavam de mão em mão, os adolescentes conversavam sobre como iriam agir durante o protesto.
Continua depois da publicidade
Não carregam nenhum símbolo de movimento social em suas vestes. Na pele, ostentavam tatuagens de todos os tipos. O conteúdo das conversas nada tinha a ver com política. Falavam sobre o butim obtido durante os saques. Um deles exibia, orgulhoso, um capacete de motociclista.
– Consegui na semana passada – contou aos amigos.
>>> Em página especial, leia todas as notícias sobre os protestos
Preparavam-se para repetir o ritual da passeata da última quinta-feira, quando saquearam lojas na Cidade Baixa, bairro boêmio de Porto Alegre. Assim que a manifestação começou pelas ruas da área central, os adolescentes se separaram em grupos, com não mais de cinco integrantes cada um, e assumiram posições na vanguarda. Um dos grupos estava à frente da marcha. Logo que entrou na Avenida Mauá, o grupo se distanciou e começou a gritar:
Continua depois da publicidade
– Venham, venham!
Pretendiam afastar a frente da passeata do carro de som. Dos alto-falantes vinham palavras de ordem e orientações. Na frente da Usina do Gasômetro, tentaram atrair a atenção dos manifestantes para um prédio. Não conseguiram, e a passeata seguiu. Em um dos lados da marcha, um segundo grupo composto por cinco adolescentes começou a gritar:
– Soltem o microfone, soltem o microfone!
Gritavam em vão. Além do som dos alto-falantes, um grupo fazia batucada, com tambores de todos os tamanhos. A marcha seguiu até o Colégio Parobé e, mais adiante, dobrou à direita em uma das alças do Viaduto dos Açorianos, entrando em seguida na Avenida Borges de Medeiros.
Até ali, o pensamento geral era de que a passeata seguiria rumo à Avenida Ipiranga, como na quinta-feira. Uma ordem vinda pelo alto-falante, porém, orientou que os manifestantes seguissem pela Borges de Medeiros em direção ao Centro. A esse segundo grupo de adolescentes juntaram-se outros, que gritavam:
– Quebrem, quebrem tudo!
Na descida dos Açorianos, no lado direito no sentido do Centro, a massa gritava contra depredações. Os manifestantes seguiram pela Borges. Oito adolescentes, todos de rostos cobertos, seguiam, no meio da multidão, em fila indiana, abrindo caminho. Na esquina da Borges com a Avenida Salgado Filho foram ouvidos os primeiros estouros das granadas de gás jogadas pela Brigada Militar a poucos metros dali, onde outros vândalos já haviam arrombado uma filial da loja Paquetá. Imediatamente, o grupo afastou-se da multidão e começou a chutar portas do comércio. Fora de controle, espalharam terror pela cidade.
Continua depois da publicidade